A baixa escolaridade e a consequente falta de qualificação dos profissionais reflete diretamente na competitividade do mercado brasileiro. Ano a ano, o Brasil figura nas últimas posições em índices que medem a competitividade e a produtividade dos países e, neste período de crise econômica, as diferenças ficam ainda mais acentuadas.

Porém, ao mesmo tempo em que o desemprego atinge níveis preocupantes, em alguns setores da economia, as vagas de trabalho não são preenchidas porque faltam profissionais qualificados no mercado.

Isso acontece porque as dificuldades da economia brasileira deixaram as empresas mais exigentes no momento da contratação. Hoje, a preferência é para aqueles profissionais que estão preparados e podem contribuir com mais eficiência para o crescimento da organização.

Encontrar esses profissionais, no entanto, não é tarefa fácil para as empresas. Dados da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) mostram que em 2014, 30,6% dos trabalhadores brasileiros tinham a escolaridade básica (fundamental e médio) incompleta.

Em Santa Catarina, este índice é ainda maior: 34,5% não concluíram o ensino básico. Levando em consideração apenas a indústria, os índices também crescem. No Brasil, 42,9% dos trabalhadores deste setor têm escolaridade básica incompleta, enquanto que em Santa Catarina, esse índice pula para 45,6%. Assim, a oferta de mão de obra qualificada é reduzida e reflete em toda a economia brasileira. Para o assessor da Fiesc para o Movimento SC pela Educação, Antônio José Carradore, o problema da competitividade vem da base.

Ele lembra os resultados do país na última avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), no primeiro semestre deste ano: entre 65 países, o Brasil ficou em 58º lugar em Ciências; 56º em Língua Nativa e 54º em Matemática.

Carradore destaca também a posição do país em nível de competitividade. “Temos dados que nos mostram que das 60 principais economias do mundo, o Brasil está em 58º lugar em competitividade. Com isso, entendemos que a educação é a base para o desenvolvimento da economia, das competências de um cidadão, de um profissional”, diz.

Evolução

Apesar de ainda estar muito abaixo dos padrões dos países desenvolvidos, de 2010 para 2014, já é possível perceber uma evolução no número de trabalhadores que concluíram o ensino básico, ou seja, aos poucos, os profissionais começaram a perceber que, quanto maior a qualificação, maior a chance de sucesso dentro do mercado de trabalho.

Em 2010, por exemplo, o levantamento feito pela Fiesc mostra que 62,5% dos trabalhadores brasileiros tinham a escolaridade básica completa. Em 2014, esse número passou para 69,4%, – um acréscimo de 12,4% em quatro anos.

O mesmo aconteceu se comparado os índices dos trabalhadores catarinenses. Em 2010, eram 58,5% com o ensino básico completo. Em 2014, esse número passou para 65,5% com a escolaridade básica concluída.“A falta de pessoas qualificadas no mercado é permanente, nunca vamos conseguir suprir os 100%, porque a tecnologia avança e você precisa sempre atualizar seus profissionais”, afirma Carradore.

Cultura da qualificação

No Vale do Itajaí Mirim, os dados mostram que em 2014, somente 47,9% dos trabalhadores da região possuíam escolaridade básica completa. O presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Halisson Habitzreuter, afirma que o problema da falta de escolaridade é um assunto recorrente nas reuniões da associação, principalmente porque estudos comprovam que a mão de obra brasileira tem uma produtividade inferior, se comparada aos países da Europa e aos Estados Unidos.

“Essa diferença se dá, justamente, por causa da qualificação, treinamentos, capacitações que os trabalhadores de lá tem e aqui não existe nesse mesmo patamar. Outro fato é a cultura. Lá, eles sabem a importância da qualificação”, diz.
O presidente da entidade diz que, nos últimos anos, o problema da falta de mão de obra qualificada diminuiu, mas ainda está longe de chegar no nível ideal.

“A nossa região tem mão de obra qualificada, mas não como gostaríamos. É claro que se comparar com anos anteriores já conseguimos evoluir, mas este é um processo que precisa ser contínuo”.

Ano a ano, a associação investe em cursos, palestras e treinamentos para as empresas com o objetivo de criar essa cultura da qualificação entre os profissionais da região. O próximo passo da entidade neste segmento será dado no fim do mês de setembro, quando será lançada a Escola de Negócios da Acibr, em parceria com o Centro Universitário de Brusque (Unifebe).

A ideia é oferecer cursos, num primeiro momento, de curta duração e à distância, para qualificar ainda mais a mão de obra regional. “Estamos procurando implantar essa cultura, incentivando os colaboradores para que lá na frente isso reflita em maior produtividade e qualidade dos serviços”.

SC pela educação

Liderado pela Fiesc, em 2012 surgiu o Movimento a Indústria pela Educação com o objetivo de mobilizar as indústrias para a causa da educação. Neste período, chegou a mais de 2.200 signatários e, devido ao sucesso, em março deste ano se transformou no Movimento Santa Catarina pela Educação. A ideia é incentivar setores públicos e privados para melhorar a educação quanto à escolaridade, qualificação profissional e qualidade de ensino.

Corrida para a profissionalização

Atuando em Brusque desde 1957, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) é referência quando o assunto é qualificação profissional. Neste ano, a entidade viu a busca por cursos técnicos crescer em comparação com o ano anterior e a tendência é que, em 2017, o número de matrículas seja ainda maior.

O diretor do Senai de Brusque, Julcimar Luis Machado, diz que há a necessidade de qualificar a mão de obra da região, principalmente porque o país teve uma época de pleno emprego, o que fez com que as empresas, em alguns momentos, tivessem que afrouxar as regras de contratação, admitindo pessoas com pouca qualificação.

O cenário agora, segundo ele, está bem diferente e é o que tem gerado a grande procura pelos cursos da instituição. “Hoje, a indústria da região está contratando, mas pessoas que já tem uma boa qualificação profissional. E as pessoas, aos poucos, estão começando a perceber que a qualificação é que vai garantir uma colocação no mercado”.

Machado afirma que a educação no mercado de trabalho é como um círculo, já que uma maior escolaridade possibilita que o trabalhador tenha uma qualificação profissional melhor e, consequentemente, um emprego melhor. “A partir do momento que ele tem o ensino médio, pode se matricular num curso técnico, em uma graduação”.

Para ele, a chave para alavancar a produtividade e também a competitividade do país passa por um processo de qualificação do jovem, antes mesmo de ele entrar no mercado de trabalho. Esse era o objetivo do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), lançado em 2011 pelo governo federal, mas que foi cortado neste ano devido aos problemas da economia.

Ele cita exemplo de países como a Coreia do Sul, Alemanha e França, que tem em torno de 50% de seus alunos do ensino médio fazendo simultaneamente um curso técnico. Em Santa Catarina, esse índice chegou a 15%, quando tinha o Pronatec, e hoje reduziu para 9%.

“Temos muito caminho para traçar, para evoluir. É a partir de uma formação técnica de base que o aluno pode evoluir para um curso superior”, diz. “A educação alavanca a produtividade, que alavanca a competitividade”, completa.


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