Com a ajuda da comunidade, o time do bairro Areia Baixa se organizou e, desde 2002, constrói uma história mais sólida no futebol amador botuveraense. O grande responsável pela ascensão é Oberdã Jorge, que esteve sempre à frente do clube desde então.
O Areia Baixa é um bairro afastado e com poucos moradores – cerca de 15 famílias, apenas. Oberdã morava na localidade durante a infância e sentia falta de opções de lazer no bairro. Dessa inconformidade surgiu a vontade de organizar o clube.
“Nossa vontade sempre foi de ter, então eu coloquei na cabeça e fui atrás. Muita gente ajudou, mas a iniciativa foi minha. Quando assumi, a gente usava umas camisas mais velhas, de dois, três anos, porque não tínhamos condições. Mas comecei a ir atrás, coloquei na cabeça e consegui”.
O time já existia, inclusive com a participação dos parentes mais antigos de Oberdã, mas foi pela iniciativa dele que começou a se estruturar. Ele produzia os uniformes na empresa em que trabalhava em Brusque para baratear os custos. Em 2004, começou a correr atrás para construção de uma sede, em um terreno cedido pela prefeitura – antes o time jogava em campos de outros bairros. Tudo realizado com muito esforço e mobilização, até que foi inaugurado em 2005.
“Não temos registros [mais antigos], hoje que somos organizados. Eu que comecei a organizar com o pessoal da comunidade, amigos de fora. Nosso campo é bom pra jogar, um dos melhores gramados da cidade. Somos uma comunidade mais retirada, mas continuamos brigando, cada ano uma briga diferente”.
Mesmo sendo um bairro de mais difícil acesso, o Areia Baixa costuma organizar torneios, que chegam a ter mais de 25 times. Oberdã destaca que o clube busca atender bem quem vai até lá, inclusive vindos de outras cidades. É uma das atividades que ajudam a equipe a se manter.
História longa
Apesar do Areia Baixa ter se estruturado mais nas últimas décadas, o time existe há muito mais tempo – há registros fotográficos até da década de 1960.
Oberdã recorda que, em tempos mais antigos, o sentimento de pertencimento dos moradores dos bairros com os clubes, em geral, era mais forte, o que acabou se perdendo com o passar dos anos.
“O que estou contando é a história recente, mas o time sempre teve. Não tinha sede, o campo era menor, um pouco maior que um gramado de futebol suíço. Disputava campeonatos mais antigamente, tinha uma rivalidade forte com o Ourífico. Pessoal sempre veio de outras cidades jogar aqui”.
Existência do clube é a maior vitória
No primeiro ano com Oberdã comandado o projeto, o time foi vice-campeão municipal, o que aconteceu outras duas vezes neste período. Mas o sucesso não é a regra, e o Areia Baixa ficou fora do cenário entre 2015 e 2017, mas voltou à ativa após esse período. Para Oberdã, a maior vitória, na verdade, é a manutenção do clube ativo.
“Conseguimos nos manter entre os quatro melhores por um bom tempo, mas não temos muita condição financeira de pagar os jogadores, pagar chuteira. O dinheiro é bem restrito, vamos mais pela amizade. Pessoal valoriza muito a conquista de títulos, mas manter o time em dia, participar todo ano dos jogos, se encontrar com amigos e a comunidade já é uma grande conquista”.
Oberdã explica que, diferente de outras equipes, ele conta com o compromisso de amigos de outros bairros, como da Vargem Grande e Centro, e também com colegas de trabalho para completar o time para campeonatos. Mas, com ajuda da comunidade e também de empresas de Brusque e Botuverá, consegue manter a equipe funcionando.
“Hoje, temos um caixa para nos manter, mesmo com todas as dificuldades da pandemia. Estamos bem organizados. Nossa sede é um pouco mais velha, mas, aos pouquinhos, vamos tentando revitalizar. É complicado, mas nos mantemos na luta todo ano”.
Atualmente casado, com uma filha e morando em outro bairro, Oberdã, 42 anos, está tentando encaminhar o clube para os sobrinhos. A irmã Eliana sempre lava os uniformes e faz os almoços nos amistosos. Além dela, várias pessoas da comunidade, e também o cunhado e os sobrinhos Wellington e Gustavo ajudam nas atividades do Areia Baixa e na manutenção da estrutura do clube. É aos mais jovens que o atual presidente espera passar o bastão para o futuro.
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