Bruno da Silva
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A brusquense Lysette Gevaerd dos Santos comemorou recentemente 96 anos e não pensava em ter filhos quando era jovem. O que o futuro reservara para ela, porém, foi bem diferente e ela acabou tendo uma grande família. Ela e o marido Wilson Santos tiveram dez filhos, mas, apesar de muito trabalho, ela acredita que teve uma vida bem vivida.
A filha mais velha do casal, Maria Raquel, tem 75 anos. Depois, vieram Paulo César, que atualmente tem 72, Vilson Roberto, 71, Luciano, que faleceu e hoje teria 71, Maria Iara, 69, Humberto, 68, Rui Mauricio, 66, Maria Rejane, 65, Maria Simone, 63, e Alexandre, o caçula, que tem 52.
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Impressionada pela voz do futuro marido
Lysette conheceu primeiro a voz antes da figura do marido, que já é falecido. A trajetória de Wilson começou em Blumenau, na Rádio Clube, e depois foi convidado por Raul e José Germano Schaefer para comandar a Rádio Araguaia, em Brusque. Assumiu o radiojornalismo da emissora em 1947 e, mais tarde, foi convidado a assumir a redação do jornal O Município, ao qual ficou vinculado até os últimos dias de vida, assinando sua tradicional coluna.
A primeira vez que ela ouviu a voz do futuro marido foi na volta da praia. “Eu estava na praia com meus pais, Pedro e Marta, em Piçarras, e, quando voltamos, uma amiga minha contou que tinha um locutor novo com uma voz muito bonita, fez aquele alarde. Eu fui para casa, liguei o rádio e achei a voz maravilhosa”.

Quando viu Wilson pela primeira vez, porém, ela lembra com bom humor que ficou um pouco decepcionada. “Um dia estava no Centro com ela e minha amiga viu ele, na frente da antiga Confeitaria Kohler. Eu vi aquela coisinha pequena, magrinha. Não combinava com a voz de jeito nenhum. Eu perguntei: é aquele ali? Ai, que desilusão”, admite.
Ela não sabe bem como aconteceu, mas Wilson começou a se interessar por ela. “Eu fugia dele”, brinca. Em um certo dia, em um baile, eles conversaram pela primeira vez e ali começou o relacionamento deles.
“Um dia, fomos em um baile no Carlos Renaux. Tinha um primo, o Ademar, com quem eu me dava muito bem, e fomos dançar uma valsa, mas ele não sabia dançar muito bem. Eu comecei a passar mal e fui para a mesa sentar. Ele ficou sentado um pouco comigo e, quando eu melhorei, ele foi dançar. Quando eu estava sozinha, o Wilson apareceu e perguntou se poderia sentar comigo e eu deixei. A gente ficou conversando e eu caí na dele”, conta.
Os dois se casaram em 1949, quando ela tinha 19 anos. Pouco depois do casamento, eles se mudaram para Blumenau porque Wilson recebeu uma proposta de trabalho. Lá, ela teve a primeira filha. Os outros nove nasceram em Brusque, já que retornaram para a cidade rapidamente.
“Meus filhos eram bem obedientes”
O casal morou muito tempo em uma casa na rua Pedro Werner, no Jardim Maluche. “Meu pai era construtor e tinha comprado uma faixa de terra lá. Primeiro, ele “casou” a minha irmã mais velha e fez uma casa para ela lá. No lado, ele deu para mim. Quando voltamos de Blumenau, fizemos um empréstimo na Caixa e construímos a casa naquele terreno. Oito filhos meus nasceram lá”, conta.
A diferença maior entre os filhos de Lysette foi do nono para o décimo. Depois da primeira para o segundo, que foram três anos, as distâncias não chegam a dois anos de diferença do nascimento entre os filhos.
Criar tantas crianças com uma diferença de idade pequena era um grande desafio, mas Lysette conta que eles foram filhos obedientes, o que facilitou o seu árduo trabalho.
E ela fazia questão de ser o mais zelosa possível. Levantava às 4h para colocar pão na forma e, quando os filhos levantavam, já tinha pão quentinho e roupa preparada e pendurada para eles colocarem.
“Não era tão difícil porque meus filhos eram bem obedientes. Era até gostoso ter essa casa cheia. Eu era uma mãe rigorosa, porque era obrigada. Meu “velho” era das festas, muito por causa do trabalho dele. Era tudo comigo, então se não fosse enérgica não dava conta da educação deles”.

Apesar de ter que dividir a atenção com todos os filhos, ela sempre fez questão de ser uma mãe presente e de dar conselhos. “Tive muito zelo. Costurava, bordava todas as roupas de cama das minhas crianças, lavava, passava, cozinhava, fazia pão, fazia tudo. Eles não tinham roupas de luxo, mas era tudo bem caprichado. Eles andavam bem engomadinhos”.
Nos fins de semana, quando o marido não tinha compromissos de trabalho, eles costumavam passear. “A gente ia para o zoológico de Pomerode, para a praia em Balneário Piçarras ou para o interior pegar tangerina. Quando minha filha mais nova tinha 1 ano, ele comprou um Candango, um tipo de jipe. Aí a gente conseguia levar todas as crianças. Ia para a praia com o candango carregado com as nove crianças, cama e utensílios para a cozinha”, lembra.
Lysette teve muita ajuda da filha mais velha, que acabou sendo muito importante para ajudar a criar as crianças. “Foi uma filha fantástica”, faz questão de destacar. Mas ela não tinha diferença entre os filhos, amava todos iguais. “Todos ajudaram quando ficaram maiores. Cuidavam um do outro, ajudavam na casa e eram muito obedientes. Para mim não foi pesado criar os dez, eram crianças queridas, mesmo eu tendo que fazer todo o trabalho de casa. Era uma comunidade dentro de casa. Eles nunca me incomodaram e tenho muito orgulho deles porque nunca me envergonharam”.

Ela também sempre teve muito cuidado com a parte da higiene. “Eu dava banho neles todo dia de noite até terem uns 12 anos. Eu tinha banheira naquela época e lavava de dois em dois. Colocava água morna e ia chamando as duplas. Eles tomavam banho e depois iam tomar café. E, a cada banho, tinha que trocar a água, que saía suja, porque eles viviam brincando na rua com os amigos”, lembra.
Ela se mudou para a casa onde mora atualmente, na rua Hercílio Luz, há 53 anos, no prédio onde o marido tinha uma gráfica. A sua filha Rejane, a Tida, morava na casa da rua Pedro Werner até o marido morrer. Hoje, ela mora e cuida da mãe. A casa da família no Jardim Maluche, atualmente, está vazia.
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Vida bem vivida
A vida de Lysette foi trabalhada, ela admite, mas também foi muito bem vivida. “Eu viajei muito apesar dessa “filharada” toda, conheci o mundo. Meu marido gostava dessas coisas, era envolvido com o Lions, era muito sociável. Fui ao Canadá, Japão, EUA, Havaí, conheci a Europa com duas amigas, entre outros. Quando eles eram pequenos, adoravam quando eu voltava de viagem, porque sempre trazia presentes”, recorda.

Além dos filhos, Lysette tem 24 netos e 25 bisnetos. No último dia 26 de abril, quando completou 96 anos, a família se uniu para comemorar. Mais uma celebração que a fez relembrar e refletir sobre a vida. “Minha vida teve problemas, mas se fosse só felicidade seria chato. Precisamos passar por dificuldades para valorizar as coisas boas”.

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