Bruno da Silva/O Município

Bruno da Silva
[email protected]

Edith Valle Bonamente, 88 anos, vem de uma família religiosa. Até a adolescência, morou com os pais Alvina e Guilherme e os dois irmãos no bairro Guarani, em Brusque, e era uma menina e uma adolescente caseira. Ela conheceu seu marido Celso quando tinha 14 anos e casou alguns anos depois, formando uma grande família: eles tiveram seis filhos e hoje têm oito netos e nove bisnetos. Ao longo da vida, ela superou muitos desafios e provações, mas se agarrou na fé que veio de berço para criar as crianças.

Edith e Celso são pais de Maria de Lourdes, 70 anos, Luiz Carlos, que teria 69, mas faleceu, Claudio Roberto, 68, Edson Luiz, Celso Guilherme, 66, e Aurélio Renato Bonamente, 62.

Continua após o anúncio

Doação completa

O marido de Edith trabalhava com o seu pai, que era marceneiro. Eles se conheceram no aniversário de 25 anos de uma empresa. “Foi praticamente a primeira vez que eu saí de casa. E aí, pronto. Começamos a namorar. Com 16, eu noivei. Ele era bem “apressado”. Casamos logo depois. Lavei a farda dele e dos filhos”, conta.

Foto antiga do casal Edith e Celso, ainda antes de casarem | Foto: Arquivo pessoal

Por um tempo, moraram com a sua mãe, enquanto não tinham casa. Mas foi por poucos meses. Depois foram morar em uma casa alugada pequena, só com quarto e cozinha, também no bairro Guarani. Quando engravidou pela primeira vez, eles ainda moravam lá. Eles também moraram um tempo na casa da sogra dela no Santa Rita, bairro onde depois construíram a casa da família e onde moram até hoje. Celso, atualmente com 91 anos, sofreu um acidente doméstico e, por isso, está há um tempo acamado.

Edith e Celso celebraram Bodas de Vinho, de 70 anos de casados | Foto: Arquivo pessoal

Edith lembra que seu marido trabalhou muito para criar os filhos, mas que ela também doou tudo o que tinha. “Foi difícil no início porque minha mãe não me criou para cuidar da casa. Mas fui me acostumando, fazendo tudo com muito amor. Cada filho que nascia era um novo amor, mesmo sendo difícil. Não era fácil para sustentar”. Celso depois conseguiu um emprego no cinema, onde o irmão de Edith trabalhava.

Casal com os dois filhos mais velhos, Maria de Lourdes e Luiz Carlos, na década de 1960 | Foto: Arquivo pessoal

Ela ainda conta que, quando seu marido saia de casa, ele passava uma ordem aos filhos para organizar o dia. Hoje, ela diz que eles agradecem a postura que ele adotou.

Naquele tempo, Edith lembra, eles não tinham água encanada, por exemplo. “A gente era pobre, buscava água no poço e tinha que trazer aqui para lavar roupa. Era difícil, mas todo mundo naquele tempo passava por isso. A vida trouxe muitas lições para a gente”, relata. “A gente trabalhava para sobrevivência, não tinha luxo, mas nunca faltou nada. Eu trabalhei por três anos fora, logo depois que casamos, mas depois ele quis que eu ficasse em casa”, completa.

Continua após o anúncio

Filhos no seminário

Todos os cinco filhos do casal foram para o seminário, em Corupá e Rio Negrinho, mas acabaram não virando padres. Para Edith, porém, essa educação foi importante para que eles conseguissem boas posições no futuro. Já a filha mais velha deles foi freira durante muito tempo, mas deixou o convento há 33 anos e acabou se casando depois com um ex-padre.

“Antes dos filhos irem para o seminário, era só trabalho. Fazer comida, lavar roupa. Naquele tempo, a gente colocava as crianças dentro de um cercadinho para eles brincarem e conseguir fazer as coisas. Tinha que ferver as fraldas de pano. Usávamos goma para engomar roupas e deixava no sereno para passar no outro dia. Fazia pão no forno à lenha, não tinha gás”, relata.

“Se a gente tiver amor nas coisas que a gente faz, a vida não é tão dura. Minha vida foi dentro de casa, não mandei meus filhos para o seminário para me divertir. Sou muito de oração e isso me ajudou”, completa.

“Era mãe e agora estou sendo filha”

Edith se emociona ao lembrar dos desafios que superou na criação de seus filhos. Ela usa uma bonita analogia para explicar o que passou.

“Comparo a minha vida como se tivesse plantado rosas, que são os meus filhos. Me vejo cercada como se estivesse em um buquê. Entre todo o sofrimento, que são os espinhos, mesmo com meus problemas de saúde também, a gente superou”, conta.

Todos esses obstáculos, incluindo internações por Covid-19 e dengue, mais recentemente, foram superados também com muita fé. “Meu pai tinha um rosário com uma cruz grande e isso me fascinou desde criança. Tinha Jesus com os braços abertos e parece que isso me acompanhou. Quando casei, tirei a cruz do rosário e trouxe junto comigo”.

Celso Guilherme, Aurélio Renato e Luiz Carlos (in memoriam) (em cima); Maria de Lourdes, Claudio Roberto e Edson Luiz (embaixo) juntos da mãe | Foto: Arquivo pessoal

Filha mais velha de Edith, Maria de Lourdes Bonamente Guarez resume o que sua mãe fez pelos seis filhos em uma palavra: doação. “Ela fazia dos poucos recursos que tinha o máximo que podia. Colocou-se com muito amor, esqueceu de si e entregou a vida para seus filhos. Enfrentava tudo com muita dedicação, esmero e carinho. Costurava as roupas dos filhos, fazia os passeios aos domingos de carro de mola. A única saída que ela tinha era visitar a mãe dela, onde a gente passava o dia inteiro também, brincando com os primos”.

Para Maria de Lourdes, a mãe colheu o que plantou durante a vida: um amor imensurável dos seus filhos. “Todos têm muita admiração pelo que ela fez. Para mim, é a melhor mãe do mundo”.

Edith se sente uma mãe muito feliz. Ela conta que os seus filhos não “incomodaram” e a tratam com muito carinho. Eles continuam ligados a ela e a visitam sempre que podem, assim como netos e bisnetos.

“Eu era mãe e agora estou sendo filha. Meus filhos estão sempre aqui. Sei que muitas pessoas falam isso, mas eu sou a mãe mais feliz do mundo. Hoje tenho uma recompensa muito grande, sempre pensei neles. Sou privilegiada”, destaca.

Edith com os filhos pequenos | Foto: Arquivo pessoal

Você está lendo: “Não tinha luxo, mas nunca faltou nada”: brusquense relembra desafios para criação de seis filhos


Leia também: