Arquivo pessoal

Bruno da Silva
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A criação dos filhos não foi fácil para Helenita Hoefelmann, 79 anos, moradora do bairro Limeira. Foram muitos desafios, incluindo um grave acidente que quase matou o seu marido e um incêndio que destruiu a casa da família, mas, com muito amor e trabalho, ela se orgulha de ter criado uma grande família.

Nita e Nelson, que faleceu há 12 anos, tiveram cinco filhos. A única mulher foi também a primeira a nascer: Isabel, que atualmente tem 55 anos. Os outros são Fábio, 53 anos, Luciano, de 51, Charles, de 45, e Leandro, de 42.

“Quando casei, não tinha planos de ter uma família grande”

Foi uma luta para criar os filhos, conta Nita, mas hoje ela entende que tudo valeu a pena. “Éramos pobres, mas conseguimos criá-los bem. São filhos maravilhosos. Não tenho o que reclamar deles. São muito chegados a mim”.

Nita mora até hoje no bairro Limeira | Foto: Bruno da Silva/O Município

Quando casou, ela não tinha planos de ter uma família grande. Para conseguir criar os filhos, ela sempre trabalhou, como faxineira, em casas e também no antigo Hospital Evangélico, atualmente o Hospital Imigrantes.

“Sempre trabalhei fora como faxineira em casas, porque eu necessitava. Ainda mais depois que o meu marido sofreu um acidente. Trabalhava pensando nos meus filhos”.

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Problemas de saúde do marido

Nelson sofreu um gravíssimo acidente em uma tarde de domingo, quando o casal tinha quatro filhos. Na época, eles não tinham energia na casa onde moravam e ele foi para o Centro da cidade para assistir um clássico entre Flamengo e Vasco. Quase não voltou.

“A gente achava que ele não ia sobreviver. Ele foi atropelado em frente à farmácia Lindóia. Foi atravessar a rua e um carro furou a fila e acabou atropelando ele. Ele foi parar lá na cabeceira do jardim. Foi grave, mas graças a Deus sobreviveu. O Charles (quarto filho do casal) tinha saído do resguardo há pouco tempo”.

Marido de Nita, Nelson morreu há 12 anos | Foto: Arquivo pessoal

Por um tempo, a família precisou morar com uma irmã de Nita por um tempo, no Santa Rita, porque, onde eles moravam, era muito longe do hospital. “Ele se recuperou bem, mas não conseguiu voltar 100%”, lembra. Nelson tinha uma oficina de lambretas em um prédio e, quando ele estava internado, o dono do prédio onde ficava a oficina desfez o local que estava muito velho. “O meu marido teve que se aposentar por invalidez e recebia um salário mínimo. As crianças ficavam com a minha filha mais velha a partir do momento em que o meu marido sofreu o acidente. Me ajudava muito, porque eu precisava trabalhar”.

Obstáculos da vida

Depois que o Leandro, o caçula, nasceu, Nita começou a trabalhar no Hospital Evangélico. E aí, um dia quando estava trabalhando, soube que a casa onde morava havia sido destruída por um incêndio.

“Meu marido tinha um Fusca, que ele gostava muito. Nossa casa era bem pobre, de madeira e era mais velha. Ele chegou do mecânico uma sexta-feira à tarde e tinha umas compras no carro. No que ele levou as sacolas para dentro, quando voltou, o carro já estava em chamas”, conta.

As chamas no carro acabaram atingindo a casa. Na época, eles não tinham água encanada, então não conseguiram salvar nada que não as crianças e a roupa do corpo.

“A minha única preocupação era chegar em casa e ver se meus filhos estavam bem. O meu filho mais novo tinha 6 meses e estava no berço dormindo. O meu cunhado que morava perto lembrou dele e foi buscar a criança dentro de casa. No que ele tirou, já despencou o teto. Ia cair bem em cima dele”.

Eles já estavam planejando se mudar e tinham madeira que o sogro dela tirou das terras dele separadas para construir uma outra casa no loteamento. “Íamos começar na outra semana. Conseguimos salvar essa madeira. Molharam aquela para não queimar. Mas perdemos tudo que tinha dentro de casa e também ficamos sem carro”.

Pais reunidos com filhos no casamento de Charles | Foto: Arquivo pessoal

Por um tempo, moraram com um irmão dele e depois com outro, no Primeiro de Maio, até que conseguiram construir a casa nova. “Conseguimos levantar a casa nova e fomos, mesmo sem energia ainda. A gente trabalhava, meu marido fazia bicos em casa. E aí a gente fez a vida. Eu trabalhava no hospital, das 5h às 13h30, e depois trabalhava nas casas de algumas famílias. Sempre tive saúde”, conta.

Depois, o marido dela ainda teve mais problemas no rim. Ficou muito tempo lidando com isso e não passava de jeito nenhum. “Eu tinha que levar ele nas costas para o hospital depois do trabalho. Ele passou por algumas cirurgias, quase morreu. Um dia o rim “estourou” dentro dele. Soltou um grito tão grande que estourou a cabeceira da cama”.

Após muitas idas e vindas, o médico decidiu tirar o rim. “Ele mostrou para nós dentro de um vidro, apodreceu”. Por um tempo, ele melhorou um pouco. Mas tinha uns furos da cirurgia e saía pus e sangue e ficou assim por anos. “Um dia, ele me chamou no banho e me mostrou que tinha uma pontinha, um corpo estranho, saindo pelo furo. Fomos para o hospital e descobriram que tinham deixado um dreno dentro. Precisou passar por uma cirurgia para tirar. Ele conviveu com essa dor por anos, depois, passou. Foi um erro médico. Ele chegou a processar o hospital e ganhou a causa, mas acabou nunca recebendo”, recorda.

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“São tudo para mim”

Filha mais velha de Nita, Isabel Cristina Hofelmann destaca que a mãe foi muito guerreira e admira como ela lidou com todos os problemas.

“Naquele tempo, era tudo muito complicado, mas ela sempre encarou as coisas com bom humor. Sempre fez de tudo para deixar a gente feliz. O que mais me marcou foi a garra que ela teve quando o pai se acidentou e quando a casa pegou fogo. As dificuldades eram muitas e piorou ainda mais, ele teve que trabalhar mais, mas ela sempre se mostrou contente. Nunca estava mal humorada por causa dessas dificuldades”.

Segundo Isabel, a união dos irmãos é um reflexo da postura de sua mãe, que ensinou muito através do exemplo.

“Depois do acidente, meu pai foi uma pessoa doente. Ela trabalhava no hospital e fazia faxina em casas, mas sempre estava presente com a gente e cuidando dele. Não sei como ela conseguia. Passava noites com ele no hospital e ia trabalhar no outro dia cedo. Mesmo quando chegava, não estava mal humorada. Nos dava atenção e depois voltava para o hospital para dormir com o meu pai. Foi uma fase difícil para a gente, que ainda era criança, mas ela sempre nos fortaleceu e nos uniu”, garante.

Hoje, Nita valoriza muito os frutos que plantou. Para ela, é a melhor parte da maternidade. Seus filhos são muito próximos dela e também entre si, o que é motivo de orgulho.

“Eu gosto muito porque eles sempre me visitam. E os homens se juntam aqui na minha casa toda segunda-feira para jogar dominó, desde a época do pai deles. Eles não abrem mão. Entre eles, nunca brigaram. Tu não escutas um falar mal do outro e também nunca me desrespeitaram”, conta.

Nita garante que nunca teve medo de ser mãe | Foto: Bruno da Silva/O Município

Ela vai se mudar em breve para morar com a Isabel, filha mais velha. Refletindo em relação a tudo que já viveu, o que ela sente é felicidade pela família que criou. “Eu nunca tive medo de ser mãe, tive os cinco filhos de parto normal. Quando são crianças, dão muito trabalho. Mas a melhor parte é agora. Tenho também os meus netos e bisnetos. Éramos muito pobres, eu vestia os meus filhos com roupa dos outros. Mas a gente sempre gostou de ter a mesa cheia. Não posso reclamar de nada, meus filhos são tudo para mim”.


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