O setor de alimentos e bebidas é um dos mais fortes em Santa Catarina. O segmento tem 4.112 estabelecimentos, o que representa 7,9% da indústria do estado, de acordo com dados do Atlas da Competitividade, publicado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc).

Em 2020, foram 141.188 empregos gerados pela indústria alimentícia em Santa Catarina, cerca de 17,6% do total do estado.

Brusque também tem representatividade neste segmento. Só no ano passado, a indústria alimentícia e de bebidas gerou 662 novos postos de trabalho no município. Até maio deste ano, foram quase 300 novas contratações, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

O município tem 240 indústrias no segmento alimentício e outras 10 que atuam na fabricação de bebidas, segundo levantamento da Secretaria da Fazenda. Esse número corresponde a 6,24% do total de indústrias registradas na cidade.

Vinagre Heinig está no mercado há 122 anos | Foto: Bárbara Sales/O Município

Entre essas empresas, está a Vinagre Heinig. Com 122 anos de história, a indústria é uma das mais longevas do ramo alimentício do país e, na produção de vinagre, é a mais antiga em atividade do Brasil.

Em mais de um século fabricando o alimento usado no tempero de saladas e molhos, a indústria brusquense já passou por duas guerras, inúmeras crises mundiais e, agora, por uma pandemia.

Sabemos que essa crise afetou muitos setores, mas nós não podemos reclamar

Apesar de toda a incerteza causada pela Covid-19 na economia mundial, a Vinagre Heinig conseguiu se manter ativa e, inclusive, vivenciou um crescimento na produção.

“Só crescemos na pandemia. Sabemos que essa crise afetou muitos setores, mas nós não podemos reclamar. Devido ao produto que a gente vende, vivenciamos um período de crescimento. Acredito que todo o setor alimentício passou por isso”, avalia o proprietário da empresa, Hermes Humberto Heinig Filho, o Chico.

O mesmo aconteceu com a Maroma Sorvetes. A fábrica, que está em atividade em Brusque desde 1986, produz sorvetes e picolés que são distribuídos para mais de 80 cidades em Santa Catarina e, durante a pandemia, também precisou ampliar a produção.

Fábrica da Maroma chega a produzir 1,5 milhão de picolés por ano | Foto: Maroma/Divulgação

“No início tivemos dois cenários. As sorveterias, que ficaram fechadas e sofreram muito, e a indústria, que atende os mercados, que teve um aumento das vendas devido ao isolamento social, onde as pessoas faziam suas refeições em casa”, destaca o diretor comercial da empresa, Marcelo Habitzreuter.

Outra representante do setor alimentício de Brusque, a Indústria e Comércio de Gêneros Alimentícios Limoeiro, detentora da marca de salgadinhos Treeps, considera a pandemia como um momento bastante desafiador e, em meio a todas as incertezas do período, conseguiu manter os empregos.

Priorizamos o âmbito social, não apenas o econômico e conseguimos manter todos os funcionários

“Tivemos uma redução na produção, mas tentamos segurar o máximo para não precisar reduzir o pessoal. Sabemos da necessidade da sociedade. Todo mundo precisa colocar comida na mesa, ainda mais em um período de tanta dificuldade. Priorizamos o âmbito social, não apenas o econômico, e conseguimos manter todos os funcionários”, destaca o gerente geral da empresa, Jeferson de Souza.

A empresa, que fabrica salgadinhos de milho e de trigo e também pipocas doces e salgadas, distribui seus produtos para todo o estado de Santa Catarina, parte do Rio Grande do Sul e também do Paraná, e conta atualmente com 58 colaboradores.

Tecnologia e qualidade

Da fabricação de forma totalmente artesanal, ao longo dos anos a Vinagre Heinig se modernizou. Hoje, a empresa conta com 28 colaboradores e todo o processo de produção, desde o vinagre de álcool até os da linha gourmet, é automatizado. Além do vinagre, a empresa também fabrica as embalagens e a tampa do produto. A produção da fábrica é de 50 mil litros por dia.

“Nossa empresa é bem enxuta porque investimos muito em automação. Hoje, tem garrafas de vinagre que vão para o supermercado sem passar pela mão de ninguém. O estoquista do mercado é o primeiro a encostar na garrafa, porque automatizamos ao máximo”.

A fábrica da Maroma também é bastante tecnológica. Por ano, a empresa chega a produzir 1,5 milhão de picolés graças a tecnologia aplicada no parque fabril. Desde 2007, a Maroma investe em equipamentos automatizados com a melhor tecnologia italiana, garantindo a qualidade dos produtos.

Salgadinhos Treeps são distribuídos para toda Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul e Paraná | Foto: Bárbara Sales/O Município

A Treeps é outra empresa brusquense que investe constantemente em tecnologia e automação em seu parque fabril. Localizada no bairro Limoeiro, a fábrica tem quase 4 mil metros quadrados e grande parte das máquinas que produzem os salgadinhos foram criadas dentro da própria empresa e são patenteadas.

“Temos máquinas muito modernas, com capacidade para ampliar muito a produção. O nosso processo é bastante automatizado, desenvolvido por um dos sócios, que sempre esteve ligado com essa questão de tecnologia e foi o responsável por criar vários dos nossos equipamentos. No ano passado, ele faleceu em decorrência da Covid-19. Foi um baque, ele exercia um papel de liderança grande dentro da empresa e estamos nos reorganizando depois dessa grande perda”, destaca Jeferson de Souza.

Perspectivas para o setor

Marcelo Habitzreuter, diretor comercial da Maroma, observa que, atualmente, o setor alimentício vem enfrentando um período conturbado devido aos grandes aumentos de insumos no geral, mas ainda assim, acredita que a temporada será boa, com oportunidades para crescer ainda mais.

“As pessoas já se adaptaram para uma nova realidade de consumo, e nós estamos ligados ao nosso consumidor para poder atendê-lo da melhor forma. A nossa expectativa é boa. Esperamos fazer um bom ano, mesmo com todas as dificuldades que o setor vem enfrentando”.

As pessoas já se adaptaram para uma nova realidade de consumo, e nós estamos ligados ao nosso consumidor para poder atendê-lo da melhor forma

O gerente da Treeps, Jeferson de Souza, também destaca a instabilidade dos insumos como o principal desafio do setor, principalmente no caso da empresa, que depende do agronegócio para a matéria-prima.

“Precisamos sempre nos reinventar. A variação dos insumos é muito constante. E isso impacta diretamente na nossa produção, não apenas na questão dos valores, mas também na qualidade. Quando a safra não é tão boa, somos impactados diretamente”.

A Vinagre Heinig, por outro lado, está iniciando investimentos para construção da primeira unidade da empresa fora de Brusque, em São Joaquim, na Serra Catarinense, para a produção exclusiva do vinagre de maçã orgânico.

“Estamos investindo lá agora, para suprir a demanda do mercado para os produtos orgânicos. É um novo nicho de mercado que estamos aproveitando. Compramos uma fazenda, já fizemos o plantio da maçã e logo poderemos iniciar a nossa produção lá”.


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