Por Eliz Haacke

O jornal O Município estreia nesta terça-feira a série Saúde em Dia, que mensalmente trará informações úteis para os cuidados com a saúde da população. Nesta primeira reportagem, o assunto abordado é uma doença que tem se tornado cada vez mais comum no país: o câncer de cólon, ou colorretal. O aparecimento do tumor pode estar relacionado com os hábitos de vida. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, são registrados quase 41 mil novos casos todos os anos.

Além dos hábitos de vida, como o consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados e a falta de atividades físicas, aliadas ao sedentarismo e obesidade, o histórico do tumor na família também pode acarretar no surgimento de novos casos.

Para diagnosticar o câncer, o paciente deve passar pela colonoscopia, um exame de endoscopia que analisará o intestino através de um tubo flexível com uma câmera para identificar possíveis lesões ao longo do intestino. Durante a biópsia, o médico coletará a amostra do local onde foram encontradas as irregularidades para encaminhar para a análise.

A colonoscopia deve ser realizada a partir dos 45 anos. Anteriormente, a idade mínima era 50 anos, mas isso mudou após o aumento de casos em pessoas mais jovens.

A campanha Março Azul Marinho tem por objetivo de chamar a atenção para o câncer de intestino e conscientizar a população de que se trata de doença silenciosa, que pode ser prevenida pela colonoscopia. Além disso, a campanha mostra que se diagnosticada precocemente, a doença tem altos índices de cura.

Casos na região

De acordo com dados do sistema do Ministério da Saúde, o Datasus, nos últimos cinco anos foram registradas 126 internações na região de pacientes com câncer colorretal. Entre 2018 até janeiro de 2023 foram 97 pacientes de Brusque, 26 de Guabiruba e 3 em Botuverá que precisaram de internação.

Os homens representam a maior parte desses pacientes, totalizando 72 casos de internações. No mesmo período foram registrados nove óbitos devido ao tumor, sendo sete em Brusque, um em Guabiruba e um em Botuverá.

Ainda de acordo com o Datasus, essas internações custaram aos cofres públicos R$ 487.997,49 em tratamentos.

Importância do diagnóstico precoce

O médico coloproctologista Paulo Coppini salienta que o principal tratamento para o câncer de intestino é a cirurgia. “Através de técnicas específicas, se retira o segmento intestinal envolvendo toda a lesão. Após a cirurgia e dependendo a localização, poderá ser indicado o tratamento complementar com quimioterapia, associada ou não a radioterapia, esta, nos casos de câncer no reto”, explica.

No entanto, o profissional alerta que o tumor pode voltar, principalmente nos casos em que o câncer é diagnosticado em fases mais avançadas. Ele explica que a recorrência pode ser no mesmo local da lesão inicial, especialmente quando ela é localizada no reto, que é a porção final do intestino próximo ao ânus. Além disso, ele comenta que também há recorrência à distância que são as metástases, quando o câncer intestinal se espalha por outros órgãos como fígado ou pulmão.

Paulo também ressalta que pessoas com histórico de câncer no intestino ou o surgimento dos pólipos acima dos 50 anos devem realizar a colonoscopia a partir dos 40 anos. Já nos casos em que a doença foi descoberta no familiar antes dos 50 anos, o exame deve ser feito 10 anos antes do diagnóstico.

“Por exemplo, se o familiar de primeiro ou segundo grau teve câncer diagnosticado com 45 anos, deve ser recomendado fazer o exame a partir dos 35 anos e assim por diante”, detalha.

Impactos no dia a dia

A moradora do bairro Águas Claras, Guisela Teresinha Paoli, de 74 anos, descobriu o câncer há cerca de três anos após perceber que sempre que defecava saia sangue nas fezes. “Ela não deu bola pois achava que era hemorroida e ficou cerca de um ano e meio sangrando, mas foi piorando com o tempo e um dia ela foi ao médico, fez a colonoscopia e diagnosticou o câncer no reto”, conta a filha Alma Dolores Paoli.

Logo após o diagnóstico, a paciente já iniciou o tratamento com radio e quimioterapia. “Ela fala para as pessoas: ‘não brinquem com essa doença, pois ela é muito séria’. Passamos muito trabalho com ela. Foi uma luta de dois anos e meio entre hospital e casa, casa e hospital, mas ainda vamos direto para Blumenau para ela passar pelos exames de rotina”.

No caso de Guisela a cirurgia não foi necessária, no entanto, segundo a filha, ela passou por muitas sessões de tratamento que acarretaram em outros problemas. Hoje, a paciente não consegue segurar as necessidades e precisa usar fraldas diariamente. Apesar do tratamento contra a doença já ter finalizado, a paciente precisa passar por exames de rotina para verificar se há chances da doença voltar.

Durante o período de tratamento, que ocorreu no hospital em Blumenau – referência de Brusque para o tratamento oncológico – Guisela conheceu diversas pessoas que também enfrentavam algum tipo de câncer. Ao longo dos meses de terapia, ela presenciou cenas muito tristes e precisou se despedir de alguns colegas que acabaram falecendo.

“É uma doença que nós não podemos bobear, se ela sente algo nós precisamos correr para o médico com ela, pois o médico disse que o câncer no reto é muito mais complicado”, pontua a filha.

Sinal de alerta

O coloproctologista aponta alguns sintomas que devem ser analisados atentamente pelas pessoas, pois podem ser um sinal do câncer colorretal .”Os sinais e sintomas que podem estar relacionados ao câncer de intestino são alteração do hábito intestinal, sangramento nas evacuações ou presença de sangue junto com as fezes, cólicas persistentes, afilamento das fezes, perda de peso não intencional e anemia”.

Alguns fatores alimentares podem contribuir para o aumento de risco para desenvolver o tumor, como o excesso de carnes vermelhas, principalmente as processadas, como defumados e embutidos; alimentos industrializados em excesso, gorduras, frituras, lanches e consumo de álcool e cigarros. Paulo salienta que uma alimentação saudável e rica em frutas, verduras, legumes e cereais integrais, associadas a manutenção de peso adequado e atividade física regular podem diminuir o risco.


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