Desde o início do ano, Brusque registrou 20 casos confirmados de dengue, segundo a Diretoria de Vigilância em Saúde. Entre eles está o casal Joice Mara Becker, 24 anos, e Gustavo Martins Karpinski, 24, moradores do Limeira Baixa.

Eles relatam que perceberam os primeiros sintomas no dia 10 de março: dor de cabeça, principalmente atrás dos olhos, febre alta, calafrios e mal estar. A primeira ação do casal foi tomar um remédio para aliviar o desconforto. Entretanto, a febre piorou cada vez mais e eles foram ao hospital no mesmo dia.

“O Gustavo chegou do trabalho e estava muito pior do que eu, pois demorou mais tempo para tomar um remédio. Levei ele ao hospital, e ficou fazendo exame e foi atendido em particular. Ele ia demorar e como eu estava melhorando, pensei em ir pra casa. Quando saiu o resultado e deu reagente, logo pensei que eu também poderia estar com dengue”, conta Joice.

Então, ele, que trabalha como analista de exportação, foi afastado do trabalho e foi orientado sobre medicação, hidratação e repouso. Já a Joice, que é analista de marketing, começou a tomar remédio junto com o companheiro.

No dia 11 de manhã, Joice foi encaminhada ao Sistema Único de Saúde (SUS), também foi afastada do trabalho e recebeu as mesmas orientações, contudo o exame foi realizado dois dias depois e levou mais três dias para ter o resultado.

O médico infectologista Ricardo Alexandre Freitas explica que a dengue é uma doença viral e tem sintomas muito parecidos com os da gripe. A semelhança trouxe algumas confusões no ano passado por causa a Covid-19, que ainda contava com alto número de contágios.

“O diagnóstico inicial da dengue é febre e dor no corpo. No começo, a dor pode ser mais intensa do que a febre, que aumenta depois. Tem a dor na face, sendo que uma clássica da dengue é a dor atrás dos olhos, e uma febre que perdura de dois a três dias, depois tende a diminuir”, detalha.

Após a picada do mosquito, o médico aponta que são poucos dias para surgirem os primeiros sintomas: levam no máximo uma semana. “A pessoa precisa procurar uma unidade de saúde, pois a secretaria de saúde tem mapeado os bairros com focos do mosquito e casos de dengue”, diz.

Por dentro do tratamento

No tratamento, o casal revezou entre medicamentos para aliviar os sintomas de 3 em 3 horas. Caso a febre persistisse e os sintomas aumentassem, eles deveriam retornar ao médico. Além disso, Joice e Gustavo precisaram se hidratar bastante com líquidos.

Apesar da melhora com o tratamento, o médico infectologista alerta para a necessidade do paciente ficar atento à diminuição da febre. Neste momento, em alguns casos, podem vir os sintomas mais graves da dengue, que podem levar a um quadro de hospitalização.

O médico aponta que a atenção deve ser redobrada nos primeiros cinco dias da doença. “É nos três primeiros dias de doença que tem uma piora de febre e dor no corpo. Mas, a gente sempre tem orientado que no terceiro e quarto dia pode ter uma piora do quadro, apesar de ter uma melhora dos sintomas. A febre passa, mas aí no quarto dia fica muito mal de cansaço. Então, tem que estar sempre atento aos exames laboratoriais, e a rede pública já sabe que tem que fazer exames seriados”, explica.

“O tratamento da dengue, o mais simples e objetivo, é a hidratação, que pode ser feita em casa, com soro se a pessoa conseguir engolir. Numa situação mais grave é a hospitalização. São situações que podem ser evitadas se as pessoas fizerem uma hidratação precoce”, completa o médico.

Após a recuperação

Durante os dias de repouso e tratamento, Joice detalha que ambos sentiram falta de apetite, enjoo e mal estar, além de dores no corpo, coceiras, algumas manchas vermelhas e pequenas pelo corpo, dores de cabeça e cansaço físico. Após duas semanas do início dos sintomas, eles se sentiram melhor.

De acordo com o infectologista, depois do tratamento, algumas pessoas se recuperam rapidamente, entre sete a dez dias. Mas outros pacientes podem ficar com dor no corpo e sensação de cansaço por até seis meses.

“Seria uma situação bastante desconfortável, difícil de diagnosticar e difícil de dizer que foi a dengue, pois tivemos o Covid-19, que também poderia causar esse tipo de sintomas. Hoje, temos uma situação de que muitas pessoas têm essa queixa de dores e cansaço, e não teria uma solução muito fácil para isso”, pontua.

Contudo, o médico ressalta que cada caso precisa ser avaliado individualmente, pois as orientações podem ser diferentes uma das outras. “É claro, a reposição de vitaminas, orientação dietética, atividade fisioterápica, ajudam bastante. Mas são casos específicos para serem tratados”, reforça.

Vacinas

O médico infectologista também prospecta vacinas contra a dengue que devem entrar no mercado nos próximos meses. Segundo ele, há um imunizante japonês previsto para o segundo semestre deste ano. Além disso, há a previsão para uma vacina do Instituto Butantan para 2024.

“Ela tem uma eficácia boa e poderia pegar os quatro subtipos, me parece uma vacina bastante promissora”, avalia.

Atualmente, a vacina disponível no mercado é destinada para pessoas que já tiveram dengue uma vez na vida. O imunizante está disponível apenas de forma particular, ou seja, não é oferecido via SUS.

Ricardo detalha que, para usar a vacina japonesa, o paciente não precisa ter tido dengue. O imunizante deve ser disponibilizado pelo poder público, mas precisa ser aplicado em duas doses. Já a vacina no Butantan também é destinada para todos os públicos e deve ser disponibilizada via SUS, porém é em dose única. Assim, o infectologista acredita que a cobertura dela tende a ser melhor.

Casos em análise

Conforme o infectologista, o número de casos na cidade não está tão alto como em 2022, quando foram registradas mais de mil confirmações da doença até abril.

“Mas ficamos receosos, pois os ovos do mosquito sobrevivem até um ano. Eles deveriam estar eclodindo agora e os números de casos deveriam ser maiores, por conta do que passamos no ano passado. Mas aí entra todo o trabalho dos agentes de endemias na pulverização e em pedir para que as pessoas cuidem de onde tenha criadouro de mosquitos. Talvez isso esteja repercutindo agora com meus números de casos”, avalia.

Ricardo orienta que o mosquito Aedes aegypti tende a preferir pessoas que usam roupas escuras. Além disso, o horário que os mosquitos mais atuam é durante o dia, das 8h às 18h. Ou seja, é quando costumam picar as pessoas, portanto a orientação é usar repelente principalmente nestes horários.

“E o mais importante é coibir os criadouros de mosquito. Cuidar para não ajudar a aumentar os focos. Às vezes, a própria pessoa que relaxou pode ser vítima da dengue”, finaliza.


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