Ao longo dos 38 anos do teatro e musical, diversas pessoas participaram do espetáculo interpretando desde papéis simples, como o povo, até os protagonistas. Todos os atores são amadores. Eles são pessoas da comunidade que são convidados pela direção.

Com a proporção que o teatro tomou, hoje os atores são divididos em dois grupos: os com falas, que recebem o convite e, posteriormente, o texto com o que devem decorar; e os sem fala. Os primeiros são convidados entre março e abril, e os demais entre setembro e janeiro.

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Desde o princípio
Nilton Angioletti, 63 anos, participa da peça desde a época em que ainda era um musical, em 1981. Ele recorda que o convite veio na época da juventude. Responsável por interpretar Judas, Angioletti garante que o papel foi muito significativo e forte.

Angioletti é muito brincalhão durante os ensaios, mas quando chega a hora da apresentação, sente a ansiedade e o frio na barriga. Para manter o controle, gosta de conversar com Deus antes de entrar em cena.

Hoje, o ator amador é conhecido como “O Pedro” pelos colegas de teatro. O título veio após Angioletti interpretar um dos discípulos de Jesus dez vezes. Eu sou fã do Pedro e me identifico com ele”, revela.

Nilton Angioletti participa da peça desde 1981 quando ainda era um musical / Eliz Haacke

Ele afirma que a peça vai além da cultura. “Nós temos os princípios cristãos que herdamos da família, e a Páscoa, a trajetória de Jesus e sua morte, são muito importantes para nós”, esclarece.

Para Angioletti, o teatro representa uma preparação para a Páscoa. As expectativas dele para esta edição são as melhores possíveis. “Eu fico encantado, eu vi essa peça crescer. Jamais pensei que isso tomaria essa proporção”, revela.

Impossível abandonar
No espetáculo há 30 anos, Nivio Ebele, 44, já interpretou vários papéis como povo, sacerdotes e apóstolos. Segundo ele, o convite veio porque seus irmãos já participavam da peça.

Na época, Ebele estava no auge da juventude e a peça despertou no ator amador o gosto pela sonoplastia, onde atuou em algumas edições. Neste ano, ele assume o papel do sacerdote Anaz, que é o sogro de Caifás.

Ebele considera a peça como parte da rotina. Ele confessa que pensou em não participar há alguns anos por motivos pessoais, mas não conseguiu recusar o papel devido ao apego que tem pelo espetáculo.

“Reconheço que ela exige bastante, os ensaios nos fins de semana cansam, mas quando se aproxima a edição seguinte a gente vem, faz parte da nossa vida”, revela.

Nesta edição, Nivio Ebele interpretará Anaz, um sacerdote malvado / Foto: Eliz Haacke

Participando da peça há tanto tempo, o ator avalia que o teatro começou de forma amadora, mas com o passar dos anos se profissionalizou. “Mudou tudo, tanto na direção, na apresentação, no cenário, a coisa tomou uma dimensão muito maior do que se podia esperar anos atrás”, opina.

Cada edição tem as suas particularidades e apesar da história ser a mesma, a direção procura contar ela de um ponto de vista diferente. Ebele relembra que uma das edições favoritas foi quando um soldado que coordenou a execução de Jesus narrou a história.

“Ela vai melhorando a cada vez, mas cada uma delas tem o seu ponto forte”, afirma.

De longa data
Quando ainda tinha 10 anos, Leila Dirschnabel recebeu o convite para participar da peça Paixão e Morte de um Homem Livre. Ela recorda que entrou no teatro com duas amigas e o primeiro papel foi como povo.

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Os pais revezavam quem levaria e buscaria no teatro. Na época, ambas queriam fazer papéis importantes, mas como eram crianças, sabiam que levaria um certo tempo para esse dia chegar. “De tanto participar nós já conseguimos papéis melhores”, brinca.

Hoje, com 30 anos, Leila faz o papel de povo, mas já teve a oportunidade de interpretar Herodíade, dama da corte e anjo.

Como os ensaios são muito cansativos, Leila já cogitou deixar de participar da peça. No entanto, considera que o teatro é extremamente importante e que não consegue negar o convite. “Parece que faz falta. No ano que não tem (a peça) falta alguma coisa”, explica.

Leila Dirschnabel aproveita o espetáculo para renovar sua fé / Foto: Eliz Haacke

A atriz espera que um dia toda a família possa participar da peça ao lado dela. Eles são os principais apoiadores de Leila. Além disso, o namorado Vagner Luiz Paza, 38, que conheceu o espetáculo por meio de Leila, começou a participar em 2009 e se mantém até hoje. Segundo ela, as duas famílias fazem questão de assistir os dois no palco.

“Esse ano ele está fazendo povo junto comigo na mesma cena. É o primeiro ano que estamos atuando juntos e é muito bom”, revela.