Encastelamento do Brusque, Rodolfo Potiguar e responsabilidades do associativo

"SAF" nega o básico protocolar em comunicação na estreia da Série C; saída de um ídolo expõe problemas da gestão anterior

Encastelamento do Brusque, Rodolfo Potiguar e responsabilidades do associativo

"SAF" nega o básico protocolar em comunicação na estreia da Série C; saída de um ídolo expõe problemas da gestão anterior

João Vítor Roberge

Temos tido aqui bastante tolerância e paciência com a nova gestão do Brusque em alguns momentos. Talvez até demais, a depender da situação. É normal que o clube se feche em algumas questões neste momento, ainda que se possa discordar. Mas as decisões tomadas em termos de comunicação são muito ruins, até indefensáveis.

O Brusque atual quer se afastar de sua torcida. Não são palavras numa rara coletiva de imprensa ou num comunicado insosso que vão mudar a materialidade das ações. As políticas do clube são desenhadas sob um projeto imerso em afastamento e isolamento, que podem ser finalidades ou “apenas” efeitos colaterais.

Ter uma coletiva ampla e mais longa com o treinador, às vésperas da estreia em uma competição nacional, é algo básico, elementar, ainda mais depois de mais de 30 dias sem jogos. Mas foi enviado apenas um videozinho de Filipe Gouveia falando por 30 segundos. Apresentações de jogadores são marcadas, mas desmarcadas rapidamente.

E após a estreia na Série C do Campeonato Brasileiro, não houve coletiva do treinador. Então não adianta falar em transparência se está faltando transparência no básico, no protocolar de um jogo.

É bizarro, porque o Brusque é um clube que tem torcida, desperta interesse local e tem veículos que fazem sua cobertura detalhada. Tirá-lo da pauta jornalística e das conversas do povo é afastá-lo de sua própria realidade. É deixá-lo encastelado, alienado, impopular. É antifutebol.

Reivindicações da torcida como abrir o Augusto Bauer duas horas antes de uma partida parecem ser vistas como algo menor, mas que precise de um grande estudo, como se o prejuízo financeiro por atender a uma demanda simples tivesse efeitos devastadores. É oferecer um pouco de conforto no acesso a um estádio que já raspa os limites legais e regulamentares para ter jogos. É uma medida popular, para manter o público próximo, mas a resposta é, em resumo um “vamos ver caso a caso”, e que bom que não é um “na volta a gente compra”.

Quanto ao elenco, ídolos saem sem muito esforço para fazê-los permanecer e o torcedor se frustra.

E se há algum interesse de fortalecer laços com a cidade e a torcida, é preciso repensar o que tem sido feito na comunicação. Não é porque isolar o clube numa torre de marfim dá certo num canto ou outro que vai dar certo aqui. E apostar apenas nos resultados dentro de campo é arriscado. É preciso ser “mais que um clube, uma paixão”, como diz o hino.

Outro drama

Os responsáveis pela nova gestão devem estar se perguntando onde estavam com a cabeça quando resolveram assumir o Brusque. Após a solução sobre a interdição do Augusto Bauer, não demorou uma semana para outra novela do estádio ser lançada. É a do certificado FIFA Quality Pro para o gramado, exigido pela CBF em seu novo Regulamento Geral de Competições (RGC). O campo não possui, hoje, este atestado de qualidade.

No momento fechamento desta coluna, a situação era a seguinte: o Brusque aguardava um posicionamento da CBF sobre trazer o jogo contra o Guarani para o Augusto Bauer, mesmo sem o certificado. Supondo que dê certo para este domingo, 20, ainda será necessário ter o FIFA Quality Pro em algum outro momento para cumprir o RGC. E lá vamos nós de novo…

Despedidas

A saída de Rodolfo Potiguar na sexta-feira, 11, foi um duro golpe para a torcida do Brusque. A “SAF” (ainda Ltda., na verdade) deixou sair um dos maiores ídolos da história do quadricolor como se fosse nada.

Mas Rodolfo Potiguar não foi o primeiro jogador que recebeu tratamento ruim pela gestão do Brusque. O clube associativo já cometeu erros do tipo. Ou vamos esquecer que o lateral-esquerdo Airton, um recordista em títulos ao lado de Ianson, saiu sem o tratamento merecido? Foi na virada de 2023 para 2024, em tempos do associativo. Por mais que a gestão atual pareça tornar este comportamento algo sistemático, não é exclusividade sua.

Devendo

A mensagem de despedida de Rodolfo Potiguar foi extremamente corajosa, pontuando exatamente o motivo de sua saída: não abrir mão de seus direitos para permanecer no Brusque. Postura correta, digna, de quem, em última instância, é um trabalhador assalariado. Tão merecedores de respeito e gratidão quanto Rodolfo Potiguar são também os jogadores que passaram pela mesma situação que o Pitbull e, ainda assim, decidiram ficar.

E após um posicionamento insípido e prolixo do clube, o advogado de Rodolfo Potiguar ainda trouxe os detalhes das reivindicações do jogador, deixando escancarado do que se trata o impasse. Sem posicionamento do Brusque contestando, é de se presumir, até agora, que não há erros na lista publicada pelo advogado.

Associativo é responsável

É lamentável que a nova administração do Brusque não se comprometa a resolver a questão pagando o que os jogadores têm a receber. Mas é necessário olhar com atenção também para o clube associativo e sua responsabilidade em não conseguir pagar questões básicas a jogadores. Enquanto houve o crescimento no campo-e-bola, o time definhou financeiramente, especialmente a partir de 2023, quando ficou sem patrocinador master em boa parte do ano.

Mas os problemas para honrar compromissos básicos são anteriores a 2023. Um jogador fundamental como Rodolfo Potiguar não tinha depósitos de FGTS nem pagamentos de férias e 13º salário praticamente desde sua chegada. A diretoria se gabava, por algum tempo, de ter salários em dia, mas, ao que parece, não era muito mais que os salários.

Sob essas e outras dívidas que foram se arrastando, a transição para uma nova gestão só foi pensada seriamente e iniciada de fato quando a situação se tornou um ultimato: SAF ou licenciamento/extinção.

Porque, por mais controversa e impopular que possa ser a “SAF” de hoje, o destino do Brusque sem ela seria ainda pior. Fazendo uma projeção com as condições do fim de 2024, muito provavelmente estaria rebaixado no Catarinense, eliminado da Copa do Brasil. Se ainda não tivesse sucumbido, iria cumprir tabela na Série C, sabe-se lá com qual elenco.

E nenhum problema que existe hoje teria sido amenizado sem a SAF. Uma “SAF” impopular, austera, encastelada. Mas, nas condições em que o Brusque estava, ainda é melhor do que nada porque, por enquanto, ainda garante sobrevivência.

Empate

Há pouco a destacar da estreia do Brusque na Série C. O quadricolor fez um jogo bastante equilibrado com o Ituano. Criou algumas boas chances no segundo tempo, mas o ataque segue sem empolgar.

Na defesa, o time segue bem. São apenas nove gols sofridos em 15 jogos. Destaque para Éverton Alemão, que fez um desarme em contra-ataque adversário que foi coisa de cinema. E Matheus Nogueira é absolutamente incrível. Sua permanência por si só já é um reforço de peso para o Brasileiro.


Assista agora mesmo!

Platz foi a choperia mais popular de Brusque por anos. Relembre:


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