Bandeiras que estampam a imagem de Nossa Senhora Aparecida, já bastante desbotadas, enfeitam a fachada de uma das casas mais antigas de Guabiruba. A construção, em cima de um morrinho, contrasta com as casas modernas que hoje existem na rua Guabiruba Sul.

Quem olha de longe já percebe que ali está uma construção centenária que sobrevive a todas as mudanças do tempo. Quem tem a oportunidade de chegar perto presta a atenção em cada detalhe e, instantaneamente, faz uma viagem no tempo.

Estima-se que a casa enxaimel tenha sido construída em 1862, há 157 anos, pelo alemão Matias Baron, que constituiu família lá. Bisneto de Matias, Nilton Baron conta que a casa ficou para seu avô, Augusto Baron, que junto com Maria teve 11 filhos. Posteriormente, a construção foi repassada para o seu pai, Abel Baron, que faleceu em 2018.

Casa da rua Guabiruba Sul chama a atenção de quem passa por ali

A casa, que atrai olhares curiosos praticamente todos os dias, já teve uma pequena venda e foi bem maior do que hoje. “Tinha uma parte de madeira atrás, bem grande, dava até para dançar. Ali era a cozinha e foi feita depois que a casa. Meu avô guardava milho ali e eu lembro de andar de bicicleta lá dentro”, conta Nilton.

Essa parte de madeira foi destruída por um incêndio que, por pouco, não destruiu também a parte de alvenaria.

“Sempre contavam que tinha o fogão a lenha e foram todos dormir à noite, quando começou a pegar fogo. Um vizinho que viu uma claridade e achou estranho, pois não tinha luz naquela época. Ele foi até a casa. Chamou meu avô e acordou todo mundo para sair de lá”.

O puxadinho foi reconstruído depois do incêndio. Anos mais tarde, o pai de Nilton desmanchou a estrutura, porque já estava bastante desgastada.

Nilton viveu na casinha enxaimel junto com os pais e os avós até cinco anos de idade. Depois, o pai construiu uma casa na chácara nos fundos. Ele, entretanto, não saía da casa dos avós.

“Eu sempre vinha ali pra frente. Com cinco anos eu vinha sozinho já. Eles tinham mais conforto que nós, tinha pão, banana à vontade. Eu vinha para comer. Chegava lá, a vó já botava comida pra mim e sempre mandava as coisas lá pra trás”.

Nas paredes laterais algumas madeiras se sobrepõe aos tijolos

O pai de Nilton fez a vida na pequena chácara que comprou. Os filhos, porém, nunca esconderam o desejo de voltar a viver na casa enxaimel. Quando os avós morreram, a casa ficou alguns anos vazia, até que Abel decidiu atender o pedido da família. Ele, sua esposa Luiza, e os 13 filhos foram morar na casa de tijolos.

“De tanto todo mundo pedir, ele resolveu voltar aqui pra frente. A gente não acreditava quando ele aceitou, porque o pai era teimoso. Foi uma festa”, lembra.

Nilton estava com 20 anos quando a família voltou para a casa. Ele viveu ali mais dez anos. Aos 28, casou-se com Maria Dolores. Eles viveram os dois primeiros anos de casados na casa. “Logo minha mãe morreu. As coisas ficaram difíceis, ainda tinha alguns irmãos pequenos. Lembro que eu precisava comprar uns dez quilos de café, sete de arroz, sete de açúcar, trigo, para o mês ali na casa”.

Casa foi construída há mais de 150 anos

Com o passar dos anos, a casa foi esvaziando. Cada um seguiu sua vida. O pai, Abel, continuou ali até o fim. Hoje, quem mora do local é o irmão mais novo, Adilson.

Nilton conta que, ao longo de tantos anos, a casa passou por várias reformas. Algumas vigas de madeira do teto foram substituídas devido aos cupins. Uma das paredes laterais foi remendada com madeira, na tentativa de deixar a estrutura mais forte. “Às vezes tem trovoada com vento, dá medo de cair tudo”.

Muitos dos encaixes de madeira estão totalmente corroídos pelos cupins. Portas e janelas feitos de uma madeira escura, rústica, são originais, assim como as telhas. Alguns tijolos na parte inferior da construção estão desencaixados e, em alguns pontos, percebe-se que foi cimentado novamente. Diferente das demais casas, partes dos tijolos foram assentados inclinados, acompanhando a direção das vigas de madeira.

Nilton reconhece a importância da casa de sua família para a história do município. “Uma casa dessa merecia ser toda reformada, aí ficava bonito, mas é muito difícil. Hoje a gente olha para essas casas e só consegue torcer para não cair”.



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