Camuflado na rua principal do bairro Lageado Baixo está o refúgio de José Roberto Fuckner. Para os mais desatentos, a residência passa despercebida. Um portão eletrônico e um caminho cercado de muito verde esconde, lá no fundo, uma das casas enxaimel mais antigas de Guabiruba. Da rua, é possível ver apenas alguns pedaços das paredes de tijolinhos em tom de vermelho.

A história da família Fuckner e, consequentemente da casa, inicia em 1868, quando Augusto Fuckner partiu da Alemanha para o Brasil acompanhado de dois filhos. Um deles, Roberto, tinha 19 anos e se estabeleceu na região hoje conhecida como Lageado Baixo. Lá ele ganhou algumas terras do governo em troca de ajuda na construção de estradas.

Casa está bem conservada e é rica em histórias | Foto: Bárbara Sales

Acredita-se que a casa foi construída no ano seguinte à chegada da família em terras brasileiras: 1869. Naquele ano, Roberto casou-se com Marie Schirmer e, relembrando suas origens germânicas, construiu a casa da família na técnica enxaimel.

A casa com pintura impecável – paredes vermelhas; portas, janelas e vigas de madeira em marrom – nem de longe aparenta ter 150 anos. E ao longo de um século e meio teve muitas utilidades.

Longa história
Além de moradia para os membros da família Fuckner, foi a primeira sede da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Guabiruba. “Em 1895 meu avô [Osvaldo Ludovico Fuckner] conheceu a mensagem adventista no Gaspar Alto e a sala da casa, durante 30 anos, foi a igreja. Esta igreja grande que temos hoje surgiu aqui”, conta José Roberto Fuckner, atual proprietário da casa.

Por um período, a casa também serviu como um rancho para bater arroz. Como Osvaldo Ludovico Fuckner construiu outra casa de madeira no terreno do pai, a casa enxaimel foi sendo usada para este fim. “Foram tiradas as divisões da casa. Ficou uma sala grande onde eles colocavam o arroz todo em círculo e passavam com o cavalo para bater. Depois levantava a palha”, recorda.

Chão da casa ainda tem as marcas de quando era utilizado como rancho para bater arroz | Foto: Bárbara Sales

O chão da sala, inclusive, ainda tem as marcas desse período, que durou de 1940 até 1955. “Eu queria trocar o piso, mas muita gente diz pra deixar assim mesmo, pois faz parte da história da casa”.

A residência voltou a ser moradia após todos os filhos de Osvaldo Fuckner casarem. Ele fez alguns reparos e viveu ali até morrer, em 1974. O filho mais novo, Hilário Guilherme, morou com a esposa Delaias ali também. No sótão da casa, nasceu o primeiro dos quatro filhos do casal: José Roberto.

É ele o responsável por manter e continuar a história da casa até hoje. Como sempre gostou muito dela, em 1982 negociou com o pai e tornou-se o proprietário. Entretanto, só voltou a viver ali – como sempre desejou – muitos anos depois.

Casa ainda guarda muitas características originais da época da construção | Foto: Bárbara Sales

Durante vários anos a casa foi alugada para outras famílias. Ao longo do tempo, passou por algumas reformas. Há 20 anos, o telhado foi reformado, mas José Roberto manteve os caibros principais e as telhas originais. Dois anos depois, foi construído um puxadinho de alvenaria onde hoje é a cozinha e o banheiro.

Em 2002, a casa deu mais uma contribuição para a comunidade. Foi ali, num período de dois anos, que funcionou a pré-escola e o jardim de infância da escola que hoje leva o nome de Osvaldo Fuckner.

O refúgio
Somente em 2016, após a aposentadoria, José Roberto e a esposa passaram a viver no local. O casal se divide entre a casa enxaimel e a construída por eles a poucos metros dali. “Aqui é onde me sinto bem. Tinha muita vontade de viver aqui. Então, depois que me aposentei, decidi vir para cá”, diz.

Porta é a mesma há 150 anos | Foto: Bárbara Sales

O casal dorme e toma café da manhã na casa enxaimel. As demais refeições são feitas na outra casa, onde vive a mãe de José Roberto, Delaias, de 81 anos.

Ele passa seus dias na casa enxaimel, cuidando do seu refúgio centenário. Apesar de tantos anos, a casa mantém muitas de suas características originais: piso, janelas, portas, telhado, as grandes pedras rústicas que sustentam a edificação. Até um pequeno enxame de abelhas permanece ali, em uma das vigas da casa há muitos anos. “As abelhas estão aí desde a época do meu bisavô”, diz José Roberto, orgulhoso.

E assim deve se manter, como é o desejo da família. “Enquanto eu puder, ela vai ficar aqui”, finaliza.



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