É com uma bela chave de ferro preta, daquelas que fazem os olhos dos apaixonados por antiguidades brilhar, que dona Iracema Fuckner, 67 anos, abre a porta da casa enxaimel pertencente à família de sua mãe.

A casa centenária está no final da rua Alfredo Fuckner, no bairro Lageado Baixo, e para os mais desatentos, pode passar despercebida, já que as paredes de madeira acinzentada praticamente engolem os tijolinhos.

Não se sabe ao certo o ano que foi construída, acredita-se que em 1870, por Roberto Schirmer, bisavô de Iracema. Hoje a casa está em seu terceiro endereço.

Iracema Fuckner mantém a casa construída pelo seu bisavô | Foto: Bárbara Sales

“Primeiro a casa foi onde hoje é a igreja Assembleia de Deus aqui no Lageado. Depois foi pra outro lugar e quando meu bisavô ficou viúvo, alguém tinha que cuidar dele, então minha avó trouxe a casa aqui onde está hoje, perto da dela”, conta.

Após a morte do bisavô, os avós de Iracema, Alberto e Hilda Gumz, passaram a viver na casinha, que teve sua primeira reforma em 1925.

A reforma foi mais do que especial: foi ali o baile de casamento de Berta, uma das dez filhas do casal. “Não sei dizer o que foi feito nessa reforma, mas lembro que sempre contavam que foi para o baile. Até marcaram o ano na parede em cima da porta. Naquela época era assim, sempre tinha baile dentro de casa”, observa.

Ao longo dos anos, a casa foi ampliada, já que a família crescia. Hilda Gumz fez um espaço de madeira nos fundos da casa para sua cozinha. Também foi ela que decidiu fazer a varanda toda em madeira para a casa, além de um novo quarto na frente.

Na parede está marcada a data da primeira reforma: 1925 | Foto: Bárbara Sales

“A casa original era bem pequena, sem varanda, sem nada e com o tempo foram remendando”.

Os anos passaram e a casinha ficou para uma das filhas de Alberto e Hilda: Rosa Holdina, mãe de dona Iracema. Ela casou com Augusto Alfredo Fuckner e juntos tiveram nove filhos.

Hilda continuou morando na casa na companhia da filha, genro e netos. “Eu me lembro que a vó morava com a gente nos últimos anos, ela sempre dizia que queria morar na casa onde se criou”.

Casa está desabitada há 10 anos; assoalho ainda é o original | Foto: Bárbara Sales

Apesar de ter as características do enxaimel praticamente camufladas entre as paredes de madeira que foram surgindo depois, a casa ainda guarda muitos detalhes originais. O piso do pedaço enxaimel permanece intacto, inclusive com algumas das inscrições em algarismos romanos ainda visíveis. A porta de entrada, os caibros de madeira do teto e três paredes são centenárias.

Além dos puxadinhos de madeira que se misturam aos tijolos à vista, uma outra modificação chama a atenção: as janelas venezianas. “O pai colocou essa veneziana porque ele queria olhar para fora. Antes era janela de madeira, mas como ele tinha bronquite, dizia que o vento fazia muito mal, aí botou essa janela para poder olhar pra fora nos dias frios”.

Casa foi construída em 1870 | Foto: Wesley de Souza

Passados quase 150 anos de sua construção, a casa hoje está vazia. Foi morada de Iracema, do filho Newton e da nora Graziela até 10 anos atrás. Depois, eles se mudaram para a casa construída ao lado.

A casinha centenária serviu por um período, após a mudança da família, como uma confecção. As paredes internas foram removidas e hoje ela se resume a uma grande sala, com alguns fardos de malhas, madeiras e ferramentas.

O anexo de madeira feito pelo pai de Iracema nos fundos deve ser demolido, já as históricas paredes de tijolos permanecerão. “A casa representa a lembrança da minha família, dos tempos antigos, não deve ser demolida”.



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