Único exemplar tombado como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (Iphan) em Guabiruba, a casa da família Ullrich enche os olhos de quem passa pela rua Holstein, no bairro São Pedro, em Guabiruba.

Localizada logo depois de uma curva, a bela casa enxaimel pode ser vista da rua e a paisagem que a compõe deixa qualquer um encantado. A edificação contrasta com o verde do amplo terreno onde foi construída e os morros ao fundo dão o toque final ao cenário bucólico.

Estima-se que a casa tenha sido construída em meados do século 19 por Frederico Zach. Tornou-se propriedade da família Morsch e, só tempos depois, passou para a família Ullrich, a qual ainda conserva.

Casa foi construída em meados do século XIX

Atual proprietário, Roberto Ullrich conta que a casa entrou para a história da sua família por meio de seus avós. Francisco Landeira era espanhol e veio para o Brasil para morar no Rio de Janeiro. Frederica Morsch, sua avó, era de Guabiruba, e foi para o Rio de Janeiro passar uns tempos. Lá, os dois se encontraram, começaram a namorar e vieram para Guabiruba, onde se casaram.

Francisco queria voltar e morar no Rio de Janeiro, mas Frederica preferiu ficar, já que toda sua família estava em Guabiruba. Francisco disse que ficaria na cidade se conseguisse um terreno com casa. “Minha avó então lembrou do irmão dela, que tinha comprado essa propriedade, mas não morava aqui. Naquela época, como era difícil um visitar o outro, ela disse para irem na igreja que lá encontraria o seu irmão e poderia conversar com ele”, conta, emocionado.

E assim o fizeram. O casal foi à igreja e lá fizeram a proposta de compra da propriedade no Holstein. “No começo esse irmão não quis vender, mas a esposa dele o convenceu e foi assim que chegamos até essa casa”, destaca.

Roberto acredita que a chegada do casal na propriedade aconteceu, aproximadamente, em 1930. Desde então, a casa enxaimel segue com a família.

Os pais de Roberto também viveram por um período na casa. Sua mãe, Ida Landeira, era a filha mais nova de Francisco e Frederica e casou-se com Helmut Ullrich.

Apesar de não lembrar-se muito bem, o próprio Roberto acredita que seus primeiros anos também foram na casinha. “Eu devia ter uns quatro anos quando meus pais construíram a casa deles e saímos daqui”, diz.

A casa foi habitada até o fim dos anos 1970, aproximadamente. Frederica faleceu em 1960. Francisco continuou morando na casa por um tempo, depois foi morar com uma filha em Brusque. Após a saída dele, a casa ficou vazia.

No interior ainda há alguns objetos acumulados

Hoje, após mais de 150 anos de sua construção, a casa está bastante deteriorada. As duas paredes laterais são os pontos mais danificados. A fachada, apesar da ação do tempo, permanece, dentro do possível, em boas condições. Desenhos circulares feitos a partir da colocação diferenciada dos tijolos enfeitam a fachada e dão um visual diferente à casa.

Praticamente tudo na edificação é original. Nada foi modificado, apenas algumas trocas de sarrafos ao longo dos anos, como forma de manutenção do local. No interior da casa, há ainda alguns objetos. O assoalho já não é tão firme e a subida em direção ao sótão precisa ser feita com muito cuidado.

De acordo com estudo realizado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), diferente da maioria das casas de imigrantes alemães em Santa Catarina, a casa Ullrich é das poucas da primeira geração de enxaimel que não sofreu acréscimos para abrigar outros espaços como varanda e cozinha junto ao corpo da edificação.

Casa Ullrich é uma das mais conhecidas de Guabiruba

Roberto lembra que quando seus avós viviam ali, os finais de semana eram sempre agitados. “Meu avô tinha uma mesa grande e no final de semana a casa enchia. Quando tinha uma festa, alguma coisa diferente, as primas vinham aqui e decoravam a mesa com uma flor amarela e vermelha, era muito bonito”, lembra.

O atual proprietário diz que a intenção sempre foi preservar a casa como ela sempre foi, por isso que mesmo depois de tantos anos, ela permanece praticamente original. “Não foi mexido em nada. Do jeito que ela estava quando eu a conheci, ela permanece. A ideia é deixar como está”.

Roberto gosta muito do local onde viveram seus avós e onde passou sua infância. Sempre sonhou em restaurar a casa e torná-la útil, mas sabe que é difícil. “Não tenho nem ideia de quanto custaria reformar. Não tenho interesse em tirar isso daqui, gostaria de mexer, tornar isso útil, montar um restaurante, usar as salas da casa. Mas a idade vem, o tempo passa, e não conseguimos realizar”.

Tombamento
Roberto diz que o tombamento da casa pelo Iphan foi algo totalmente inesperado pela família. Quando seu pai ainda estava vivo, recebeu uma correspondência notificando-o sobre a transformação da casa em patrimônio histórico. “Deu aquela confusão toda, mas não se teve o que fazer. Recentemente, recebi uma correspondência que estava na prefeitura desde 2012, com o certificado de que a casa foi tombada”, conta.

Inicialmente, a casa foi tombada como patrimônio histórico de Santa Catarina pelo Governo de Santa Catarina em 2002. Já o tombamento como patrimônio histórico pelo Iphan aconteceu em 2011, como parte do projeto Roteiros Nacionais de Imigração, gerenciado pelo órgão federal.

Entre as ações do Roteiros Nacionais de Imigração estava a estruturação de roteiros de visitação nas cidades com foco no patrimônio preservado.



Você está lendo: Casa Ullrich


– Introdução
– Herança alemã
– Tombamento no papel
– Caminho para o turismo
– Casa Missfeldt
– Casa Baron I
– Casa Fuckner
– Casa Schirmer
– Casa Schäfer
– Casa Rothermel
– Casa Kohler
– Casa Becker
– Casa Scharf
– Casa Schlindwein I
– Casa Schlindwein II
– Casa Kistner
– Casa Riffel
– Casa Gums I
– Casa Gums II
– Casa Suavi
– Casa Schweigert
– Casa Baron II