Herança dos colonizadores alemães, as casas enxaimel retratam a história de Guabiruba e, de certa forma, simbolizam um período marcado por muito trabalho e pela busca de uma vida melhor.

Quando os imigrantes começaram a chegar ao município a partir de 1860, trouxeram consigo a técnica que já não era utilizada há muito tempo na Europa. Entretanto, a realidade encontrada no Sul do Brasil era diferente da que estavam acostumados.

Início da montagem da casa do guabirubense Sidinei Baron | Foto: Arquivo pessoalPor este motivo, as casas enxaimel utilizadas há muitos anos na Europa tiveram uma espécie de releitura para se adaptar à vida no país.

Lucimara Schlindwein é historiadora e em 2007 fez o seu artigo da pós-graduação em História Cultural sobre as casas enxaimel de Guabiruba. Ela explica que, entre as principais modificações feitas na região, está a retirada do estábulo que era muito comum ficar junto à casa para armazenar o calor.

Em contrapartida, no Brasil as casas enxaimel ganharam varanda e portas e janelas maiores. “Justamente pelo verão abafado que temos. Na Europa não existiam as varandas e aqui era necessário porque o telhado da estrutura já servia como proteção durante o verão e as chuvas intensas”.

Outra característica das casas enxaimel da região é o distanciamento do solo devido ao clima úmido. “Se a casa fosse encostada ao chão, a madeira apodreceria, então as casas têm uma base com pedras ou com tijolos”.

Depois do esqueleto, é montado o telhado e só depois é feito o preenchimento | Arquivo pessoal

O telhado inclinado também ganhou outra função com os imigrantes. “Na Europa, o telhado era inclinado tanto quanto aqui, mas para não acumular neve. Aqui não temos esse problema. O telhado continuou com a inclinação, mas o objetivo era a utilização do sótão como armazém e até mesmo quarto quando necessário”.

Lucimara também destaca outra característica das casas enxaimel da região que diferem das construídas na Europa: os tijolos manchados. A historiadora lembra que ainda não havia grandes olarias na região, por este motivo o tijolo era feito manualmente. “Um a um eram colocados no forno, não tinha regulagem de temperatura, então saía ora tijolos mais escuros, ora mais claros, ficavam imperfeitos, mas ao mesmo tempo essa imperfeição é o que dava charme à casa”.

Apesar de simples e baratas, essas casas conseguiram resistir ao passar dos anos. Prova disso são os exemplares centenários que ainda existem no município.

“Temos casas com 130 anos e construções mais recentes, com 70 anos. Elas foram construídas ao longo da história da cidade, desde o início da ocupação alemã. Casas simples, baratas, com mais de um século e uma durabilidade grande”.

A técnica
Proprietário de uma fábrica de casas nesta técnica em Blumenau, o construtor Paulo Volles explica que o enxaimel nada mais é do que uma estrutura de madeira encaixada, sem pregos ou parafusos, com preenchimento em tijolo, taipa ou pedra.

A principal característica do enxaimel é que é possível desmontar e montar a estrutura diversas vezes. “É uma casa pré-fabricada, desde a antiguidade é assim”.

Na região, o mais comum são as casas com preenchimento de tijolos | Foto: Paulo Volles/Divulgação

Primeiro, monta-se todo o esqueleto da casa em madeira. Em seguida, coloca-se as telhas e só então é feito o preenchimento com tijolos. Nas casas de Guabiruba, os tijolos eram preenchidos com areia, barro ou cal, nada de cimento. “É uma casa rápida de fazer. Hoje, leva de três a cinco meses para ficar pronta”, afirma.

Volles destaca que o que possibilita que a casa seja desmontada e montada novamente são as inscrições em algarismos romanos em cada madeira. Mesmo passados mais de um século em alguns casos, as inscrições são ainda bem visíveis em todas as casas.

“É como se fosse o manual de construção, segue aquela marcação e não tem erro. É uma das grandes características da casa”.

Para o construtor, o enxaimel é um dos principais legados da colonização alemã. “É impossível ir a alguma cidade colonizada por alemães e não se admirar por estas charmosas casas. A complexidade de suas linhas de madeira encaixada e perfeitamente harmonizada com tijolos ou taipa carrega séculos de tradição e cultura”.


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