Poucos poderiam prever, mas foi a bola rolar durante o Campeonato Catarinense de 1992 para que os olhos dos apaixonados por futebol no estado se voltassem ao Bruscão. O clube uniu a qualidade de ídolos como Edemar Luiz Aléssio, o Palmito, meia habilidoso e multicampeão, com a raça de defensores do naipe de Solis Queiroz, zagueiro tricampeão catarinense por Criciúma, Brusque e Figueirense.

Depois de uma campanha impecável, o time fez a final com o tradicional Avaí. No primeiro jogo, vitória por 1 a 0 para o time da capital. Já no segundo, 2 a 1 para o Bruscão. Como o regulamento não previa gol fora de casa, os times foram para prorrogação, e o quadricolor fez mais um gol, antológico e inesquecível, com Cláudio Freitas driblando o goleiro e tocando para as redes, consagrando o time campeão.

Na edição que trazia os campeões estaduais de 1992 da revista Placar, a principal publicação esportiva do Brasil destacou a vitória resumindo bem o sentimento: “Zebra sem surpresas”. E foi assim que o Bruscão conquistou o principal título do futebol catarinense apenas cinco anos após seu surgimento.

Um time aguerrido

Em pé, da direita para a esquerda: Carlos Alberto, Zeca Albuquerque, Solis, Edson D’Ávila, Zé Ricardo, Clésio, Müller, Washington, Leandro, Bob; agachados: Weber, Cidão, Neilor, Jair Bala, Itamar, Rildo, Palmito, Cláudio Freitas. Foto: Arquivo

O grupo foi formado por jogadores experientes, e alguns até mesmo desacreditados. Cláudio Freitas, por exemplo, havia brilhado no Internacional e no Grêmio, mas convivia com problemas de indisciplina que o deixaram longe dos planos dos principais clubes do Brasil. No Brusque ele encontrou redenção: foi o autor do gol do título, na prorrogação contra o Avaí.

“Das minhas sete conquistas, a do Brusque considero a mais importante, pelas circunstâncias. Era um clube humilde, pequeno, mas que se uniu em prol do título”, Palmito, ex-atleta e artilheiro do Brusque no estadual 1992

Artilheiro do título, Palmito já tinha 33 anos quando conquistou o seu sétimo troféu estadual, em 1992. “Das minhas sete conquistas, a do Brusque considero a mais importante, pelas circunstâncias. Era um clube humilde, pequeno, mas que se uniu em prol do título”.

Quem também era experiente na época do título foi o lateral-esquerdo Washington. Jogador entre os que mais vestiram a camisa do clube na história, ele chegou no Brusque para a formação do primeiro plantel histórico, em 1988. O atleta já havia passado por gigantes do futebol nacional, como Santos e Botafogo, antes de aceitar o desafio de rechear o elenco de um novo time.

“Quem me reconhece sempre pergunta se eu fui bater ou cruzar. A verdade é que eu fui cruzar, mas tive a felicidade de, aos 35 anos, marcar gol na final”, Washington, ex-atleta e autor de um dos gols da final de 1992

Washington fez um gol antológico na final do estadual. Correndo pela esquerda ele bateu uma linda bola cruzada que foi morrer nas redes. Quem acompanhou aquele jogo até hoje ficou com a dúvida: ele queria fazer isso, ou a intenção era cruzar? Ele não esconde a verdade. “Hoje eu tenho um estacionamento em Balneário Camboriú, e vem muita gente de Brusque. Quem me reconhece sempre pergunta se eu fui bater ou cruzar. A verdade é que eu fui cruzar, mas tive a felicidade de, aos 35 anos, marcar gol na final”, explica.

“Nós éramos experientes, e passávamos nosso conhecimento para os mais jovens, que nos respeitavam. Assim fechamos o grupo, com união dentro e fora de campo”, Solis Queiroz, ex-atleta e capitão do título de 1992

O capitão do título e do ano de 1992 foi Solis Queiroz. O ex-zagueiro, que ainda mora em Brusque, lembra que o começo da temporada não foi nada fácil. “Estávamos mal, e o que conseguimos, na verdade, foi evoluir com o tempo, principalmente depois da chegada de Palmito e Claudio Freitas. Nós éramos experientes, e passávamos nosso conhecimento para os mais jovens, que nos respeitavam. Assim fechamos o grupo, com união dentro e fora de campo”, completa.

A campanha
O Brusque teve uma largada irregular no campeonato, que contou com 14 equipes divididas em duas chaves de sete. O clube começou a disputa em um grupo formado por Concórdia, Marcílio Dias, Joinville, Chapecoense, Inter de Lages e a surpresa Araranguá, que terminou como líder do grupo no primeiro turno. Entre altos e baixos, o quadricolor ficou na terceira posição.

O icônico gol de Claudio Freitas na prorrogação, símbolo do título. Acervo Edemar Luiz Alessio

Mas com o tempo, o time se ajeitou e os resultados vieram. Embora tenha terminado o returno na quarta posição, o Brusque ficou na segunda colocação geral, o que rendeu vaga nas quartas de final.

Antes do início da etapa, o time ainda disputou um troféu simbólico de nome Taça Governador do Estado, vencido na ocasião pelo Criciúma. Na fase mata-mata, o Bruscão cresceu: despachou a Chapecoense nas quartas, o Marcílio Dias nas semifinais e foi campeão para cima do Avaí.