Um time campeão é feito de taças, e além dos canecos de competições municipais e regionais, o Paysandú ostenta em sua sala de troféus duas gloriosas conquistas. A primeira, em 1956, quando sagrou-se campeão catarinense de times profissionais, e a segunda trinta anos depois, quando uma equipe de jovens ergueu a taça da divisão de acesso, no último ano do futebol profissional antes da fusão.
Os dois títulos forjaram uma legião de torcedores e admiradores do alviverde. Em 56, uma galática seleção de grandes jogadores de Brusque, muitos deles dissidentes do Carlos Renaux, levaram multidões ao estádio do alviverde. A equipe só não entrou oficialmente no hall dos campeões catarinenses devido a uma movimentação polêmica da Federação Catarinense de Futebol (FCF).
Já em 86, o clube, com diversos problemas financeiros principalmente devido às enchentes da primeira metade dos anos 1980, decidiu apostar em pratas da casa para buscar o acesso à elite estadual na divisão especial. Com raça e dedicação, o grupo de jovens surpreendeu e conquistou o título até então inédito para o esmeraldino.
1956: um sonho realizado
Na década de 1950, o Paysandú já era uma realidade, tanto como clube social quanto como equipe de futebol. Naturalmente, os paysanduanos começaram a pressionar para que fossem formadas equipes competitivas. O sonho da conquista do Campeonato Catarinense passou a ser uma cobrança principalmente após os dois títulos estaduais faturados pelo principal rival, Carlos Renaux, em 1950 e 1953.
Este foi o primeiro ano em que a Liga Especial de Futebol Profissional (LEPF) elaborou o Campeonato da Divisão Especial de Futebol Profissional, que envolveu dez clubes: América (Joinville), Avaí, Carlos Renaux, Caxias (Joinville), Estiva (Itajaí), Figueirense, Marcílio Dias, Olímpico (Blumenau), Palmeiras (Blumenau) e Paysandú.
Mesmo com poucos recursos e enfrentando dificuldades financeiras, o Paysandú conseguiu formar um plantel fortíssimo. A aposta foi, principalmente, em jogadores conhecidos dos brusquenses. Um dos principais nomes trazidos diretamente do arquirrival Carlos Renaux foi Julio Hildebrandt, o Julinho.
Centroavante cabeceador, foi a solução para os gols da equipe, marcando inclusive um dos gols da partida final. Ele relembra sua chegada no alviverde. “Lá cheguei a ser campeão de 1950. No meio da década, fui convidado para jogar no Paysandú e aceitei”.
A rivalidade entre os dois clubes era mais acirrada do que nunca. Contudo, por ser um atleta querido na cidade – e principalmente, um goleador nato – diz que não teve problemas com a troca de clube. “Eu me dava bem com todo mundo. Fiz grandes amizades nos dois times”.
Sua fama era por marcar gols de cabeça. Mas, como ele bem ressalta, ‘fazia gol de tudo que é jeito’. O seu tento na decisão foi, inclusive, um chute curto após ultrapassar os zagueiros do América. Foi neste período que Julinho chegou a ir para o Rio de Janeiro fazer um teste no Fluminense. “Eu nem sei se passei ou não. Fiquei um tempo lá, peguei minhas coisas e voltei”, lembra aos risos.
A campanha do alviverde no ano do título chamou a atenção. Foram 11 vitórias, quatro empates e apenas três derrotas em 18 partidas. A escalação da grande final, contra o América de Joinville, em 20 de janeiro de 1957, contou com: Zezé, Wallace, Vilaci e Pecinha; Orival Bolognini e Nego Kühn; Nilo, Telê, Julinho, Heinz e Godeberto.
Polêmica do título
Depois do fim da competição, a FCF decidiu que o campeão catarinense seria o time que vencesse uma partida entre o campeão dos profissionais e o campeão de uma competição realizada posteriormente, entre times considerados amadores. A situação foi tão inusitada e mal administrada que o próprio regulamento do estadual de 56 foi publicado somente em fevereiro de 57.
Acontece que, neste período até que fosse descoberto o campeão da divisão de amadores, o elenco foi dispensado e grande parte dos campeões partiram para outras equipes. Atleta do esmeraldino na época, Wallace Borba, lateral-direito hoje morador de Balneário Camboriú, lembra com indignação da situação.
“O goleiro tinha ido embora, atletas importantes como Telê, Bolognini tinham nos deixado, fomos com um apanhado de jogadores. Perdemos de 1 a 0 para o Operário de Joinville e em casa empatamos, perdendo o título”.
1986: vitória da juventude paysanduana
O ano de 1985 não terminou nada bem para o Paysandú. Disputando a elite do Campeonato Catarinense, o time completou a competição na lanterna, e por isso foi necessário disputar a segundona estadual em 1986. Convivendo com os problemas agravados após as enchentes da primeira metade de 1980 – principalmente a de 84 –, parecia ser difícil sair da situação em que se encontrava.
Mas a solução veio de dentro para fora, provando que santo de casa consegue fazer milagre sim. Desde seus primeiros envolvimentos com o futebol profissional, o Paysandú apostou na formação da base. Jovens de Brusque e região eram a grande maioria dos atletas. Mesmo em um período que o clube não era obrigado a contar com time de categorias inferiores, o alviverde realizava um trabalho referência no estado.
Em 1986, um grupo formado pelos então garotos Binho, Cazaniga, Serginho, Amarildo, Claudecir, Moura, Osnildo, Niltinho, Edmilson, Cesinha Hoffman, Cid e Keka fez grande campanha e conquistou o título e o acesso. Muitos destes atletas chegaram a seguir como parte do elenco do Brusque Futebol Clube após a fusão.
Gerson Luis Morelli, o Keka, hoje professor de educação física e vereador em Brusque, relembra com carinho da conquista. “Foi uma oportunidade bastante importante para a nossa carreira. A conquista foi bastante gratificante. Tudo isso se deu graças à aposta do presidente da época, Vlademir Appel, o Vlade”.
Outro atleta importante foi Rubens Plotegher, o Binho. Goleiro que viria a ser grande destaque dentro da cidade, ele teve suas primeiras oportunidades no alviverde. O Paysandú o contratou para ser goleiro dos juniores, servindo também como terceiro goleiro do time principal.
Porém, em um clássico com o Carlos Renaux, o jovem Binho viu sua chance aparecer: os dois goleiros principais foram expulsos e ele precisou defender as cores alviverdes. “Isso foi em 1981, e depois disso gostaram de mim. Fiquei, participei do estadual e segui com o Paysandú até 1987, quando foi feita a fusão com o Carlos Renaux para a fundação do Brusque”, diz.
A campanha do título de 56
*O Paysandú ganhou os pontos, pois o Estiva atuou com atletas irregulares
A campanha do título de 86
Primeira fase
Segunda fase
Finais
*Na prorrogação, empate em 0 a 0, que garantiu título ao Paysandú, que tinha melhor campanha
Você está lendo: Conquistas históricas
Veja outros conteúdos do especial:
– Introdução
– 100 anos de esporte e cultura
– Datas, fundadores e hino do Paysandú
– Os ídolos alviverdes
– Coração paysanduano
– Zelo pelo patrimônio
– Vocação ao esporte
– Formando vencedores
– A cultura verde e branca
– O alviverde em palavras