Montagem de elenco foi um problema decisivo no péssimo ano do Brusque

Questão não explica tudo, mas foi fundamental para que o quadricolor tivesse um ataque tão improdutivo ao longo do ano

Montagem de elenco foi um problema decisivo no péssimo ano do Brusque

Questão não explica tudo, mas foi fundamental para que o quadricolor tivesse um ataque tão improdutivo ao longo do ano

João Vítor Roberge

O Brusque foi rebaixado novamente à Série C do Campeonato Brasileiro. A terrível campanha foi produto de falhas cometidas por diretoria, treinadores e jogadores. Algumas delas foram contínuas, e a principal foi na montagem de elenco. Uma montagem ruim, que pode estar ligada tanto a questões de orçamento e dificuldades de mercado quanto de erros na avaliação.

É uma questão que não explica tudo, mas foi fundamental para gerar, por exemplo, o ataque fraco visto ao longo de todo ano. Este trabalho, especificamente, é da diretoria, com participação, no início, do técnico Luizinho Lopes.

Pré-temporada e início do ano

A equipe começou o ano com nove contratações. Georgemy e Matheus Emiliano para a reserva de Matheus Nogueira; Cristovam para a lateral-direita, com Ronei sendo opção; Matheus Salustiano, para brigar por posição na zaga; Luiz Henrique no lugar de Airton, para a reserva de Alex Ruan na lateral-esquerda; Serrato, para compor o meio-campo; Maycon Douglas, para ser opção nas pontas; e Paulinho Moccelin, para ser o principal reforço e jogador na ponta esquerda. Para o estadual, são reforços até interessantes.

Mas não foi contratado um meia, um camisa 10. Esta função ficou relegada a Jhemerson, e apenas a ele. E foi feita a opção pela manutenção de Guilherme Queiróz e Olávio, peças fundamentais no acesso à Série B, sem a contratação de outro centroavante para fazer sombra a eles. Vindo da empolgação do acesso, fazia sentido dar o voto de confiança à dupla. Depois do Catarinense, não.

No meio do Catarinense, ainda foram trazidos Dionísio, que fez bom papel no meio-campo; e o delírio coletivo chamado Patrick Machado, que veio lesionado, seria o camisa 10, não jogou cinco minutos e foi embora tão abruptamente quanto chegou.

Problemas em campo

O resultado foi trágico. Após uma causar boa impressão na estreia, o Brusque beirou o rebaixamento no Catarinense e tinha enormes dificuldades na criação, com a bola mal chegando aos centroavantes em diversos jogos. Mas, de alguma maneira, conseguiu a recuperação a partir de vitórias improváveis sobre Avaí e Criciúma, ambas no Heriberto Hülse.

O time sofreu um bocado para passar pelo GAS em Roraima, eliminou o Marcílio Dias nos pênaltis, passou pelo Avaí na semifinal e chegou à final contra o Criciúma. Foi incompetente no jogo como mandante em Itajaí, e prejudicado pela arbitragem no jogo da volta, sendo vice-campeão.

Na avaliação da diretoria, os resultados validaram o trabalho dentro de campo, rumo à Série B.

Começa a Série B

Os maus sinais do Catarinense foram mascarados por mais uma final, e um elenco com defeitos flagrantes no ataque não recebeu reforços suficientes. Para o início da Série B, chegaram Mateus Pivô, Marcelo, Diego Mathias, Anderson Rosa, Wellissol, Keké e Osman. 

Pivô foi a principal contratação deste período, se apropriando da lateral direita com qualidade ofensiva, velocidade e força. Um baita acerto. Mas nenhum outro jogador conseguiu chegar para ser titular. O Brusque começou a Série B praticamente com o mesmo time titular que escapou do rebaixamento no Catarinense e que teve um lampejo para chegar à final. 

Diego Mathias voltou de empréstimo e começou a ganhar espaço. Anderson Rosa causou uma primeira boa impressão marcando o gol na estreia, mas depois foi afastado e voltou à Portuguesa-RJ. Osman, que saiu da Chapecoense sob pesadas críticas, foi visto no Brusque como solução para o ataque, com contrato de dois anos. Mas, como era de se esperar pela fase em que estava na Chape, não somou nada. E virou um dos alvos favoritos da torcida quadricolor.

Ainda faltava um meia. Ainda faltava um camisa 9, um artilheiro para substituir Guilherme Queiróz e Olávio. Ambos já haviam passado por muitas dificuldades no Catarinense, e não seria na Série B que eles iriam repetir o que fizeram no ano anterior. Eram ciclos terminados.

E o Brusque se arrastou assim até a janela de transferências do meio do ano.

Atrasos diversos

A janela de transferências foi reaberta em 10 de julho e teve as melhores contratações do ano. Dos nove jogadores, destacam-se o trio uruguaio González-Pollero-Ocampo; o colombiano Jhan Torres; e o volante Paulinho. Chegaram também Gabriel Pinheiro e Lorran, para dar mais opções, junto dos garotos figurantes Cauari e Gabriel Lima.

O problema desta janela foi o imenso atraso. Um camisa 9 como Pollero e um 10 como González já deviam ter chegado no início do ano ou no início da Série B. Mas chegaram a tempo de fazer menos de um turno e, para piorar, Pollero e Ocampo sofreram com lesões.

E o atraso foi enorme. A abertura da janela foi em 10 de julho. Os primeiros reforços anunciados foram Pollero e Ocampo, quase um mês depois, em 4 de agosto (cinco jogos foram disputados entre as duas datas). Pollero só foi regularizado em 20 de agosto, estreando no dia 21. Ocampo foi regularizado em 23 de agosto e precisou cumprir suspensão antes de estrear, assim como González.

Entre a abertura da janela e a estreia do primeiro reforço, foram sete rodadas. Luizinho Vieira sempre terá este atraso nas contratações como um argumento válido para seu insucesso no Brusque.

Não melhorou o bastante

E com tudo isto, este foi o melhor trabalho da diretoria no ano, em relação à qualidade dos reforços trazidos. Pollero logo mostrou que teria que ser titular, mas foi atrapalhado por lesões e teve oportunidades desperdiçadas. González é um bom meia, com muita raça, que pode até integrar elencos de Série A. Ocampo teve uma lesão grave e foi preterido por Marcelo Cabo, mas deixou impressões muito positivas. Paulinho veio do Anápolis-GO, na Série D, para deixar Serrato no banco imediatamente. O zagueiro Jhan Torres assumiu a lateral-esquerda e foi evoluindo jogo a jogo, dando segurança defensiva àquele lado. 

Ainda assim, não foi o suficiente.

Ou seja

Nenhum dos três técnicos do Brusque na temporada deu conta de fazer o ataque funcionar de forma minimamente aceitável. Faltaram, desde o início do ano, jogadores que fizessem o elenco vice-campeão da Série C se tornar um elenco mais competitivo na Série B. Na última janela de transferências, atrasos limitaram a margem para reação e adaptação das melhores aquisições, que, na soma com o elenco, foram insuficientes.

Relembre

Abaixo estão links de colunas nas quais aponto os problemas ofensivos do Brusque e da formação de elenco desde o começo do ano. Tratamos a questão de forma contínua.

6 de fevereiro: Crítica à montagem do elenco
13 de fevereiro: Crítica ao ataque e à montagem do elenco
20 de fevereiro: Critica ao ataque e à montagem do elenco
19 de março: Citando problema no ataque
23 de abril: Projeção dos problemas ofensivos que seriam vistos na Série B
7 de maio: Crítica ao ataque
11 de junho: Crítica ao nível do elenco e dos reforços pós-Catarinense
25 de junho: Citando necessidade de reforços no ataque
23 de julho: Crítica ao ataque e citação de atraso de contratações
6 de agosto: Citando atraso em contratações
13 de agosto: Crítica ao ataque e aos reforços pós-Catarinense
20 de agosto: Citando atraso em contratações

Retrospectiva

As últimas colunas do ano vão tratar de diversos aspectos da temporada 2024. Esta foi a primeira da série, tratando sobre a formação do elenco. Outras questões são as lesões, semelhanças dos rebaixamentos de 2022 e 2024, trocas de técnico e o estádio Augusto Bauer.


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