Novas revelações: Rodrigo Voltolini sabia que Jocimar queria “repartir salário” de Eder Leite antes de vereador ser preso
Companheira de Eder Leite confirmou que revelou a Voltolini interesse de Jocimar em obter 50% do salário
Companheira de Eder Leite confirmou que revelou a Voltolini interesse de Jocimar em obter 50% do salário
O vereador Rodrigo Voltolini (DC), ex-diretor-geral do Zoobotânico, prestou depoimento à comissão processante que investiga denúncia contra o vereador afastado Jocimar dos Santos (DC) nesta terça-feira, 23. Voltolini informou à comissão que tinha conhecimento, antes da prisão de Jocimar, que o então vereador queria “repartir o salário” com o suplente Eder Leite (DC), este que o denunciou.
A companheira de Eder, Maria Silvana Fugazza, é quem informou a Voltolini o interesse de Jocimar em repartir o salário. Os dois trabalharam juntos no Zoobotânico. “Ela falou em repartir o salário, não ‘rachadinha’”, disse Voltolini. Eder prestou depoimento à comissão processante no dia 19 de janeiro, e relatou que a companheira sequer tinha conhecimento sobre o que era o crime de rachadinha.
Conforme o depoimento nesta terça, Voltolini disse que não concordava com a divisão de salário proposta por Jocimar a Eder, e revelada a ele por Maria Silvana. “Falei que não concordava, que não acharia legal, [esperava] que eles (Eder e Maria Silvana) se resolvessem”. O vereador Nik Imhof (MDB) pediu detalhes da conversa.
“Tratei como algo sigiloso, pois ela me pediu. Antes que o Richard [Olivette, advogado de Jocimar] pergunte: ‘por que você não denunciou?’… Muita gente vem falar, ‘ah, o Jocimar fez isso ou fez aquilo’. Quem me falou não foi o Eder, foi a mulher dele. Não que estou desconfiando, mas, como ela pediu sigilo e eu não sabia se era verdade… Fui para o Zoobotânico para trabalhar”, justificou.
O advogado de Jocimar, Richard Olivette, perguntou qual era relação entre Voltolini e Maria Silvana no Zoobotânico. O vereador e ex-diretor-geral do parque relatou que os dois quase não conversavam. O advogado seguiu questionando a intimidade dos dois a ponto de “contar segredos”, conforme argumentou.
Richard ainda perguntou sobre uma declaração de Voltolini ao jornal O Município após a prisão de Jocimar, em que ele declarou que ficou surpreso quando foi informado do crime e da prisão do então vereador. Voltolini é vice-presidente do Democracia Cristã, partido no qual Jocimar é presidente estadual. Os dois tinham uma relação de amizade.
No momento da pergunta, o advogado alegou que Voltolini se contradisse, pois falou à comissão que tinha conhecimento prévio da divisão de salário, o que, na visão de Richard, não haveria motivo então para ser surpreendido. Rodrigo respondeu: “A minha surpresa [que falei ao jornal] foi sobre a prisão do Jocimar”, justificou. “Não tenho intimidade nenhuma com ela (Maria Silvana)”, garantiu.
Após o depoimento de Voltolini, Maria Silvana foi chamada para depor. Ela disse que tomou conhecimento por Eder da proposta de Jocimar em dividir o salário, quando Jocimar o convidou para uma conversa no estacionamento do Angeloni, momento que o então vereador teria feito a exigência.
“Depois que eles (Eder e Jocimar) se encontraram [no Angeloni], o Eder disse que Jocimar propôs algo para ele. Eu, curiosa, queria saber o que era. O Eder disse que me contaria depois”, contou. “Depois, ele falou que o Jocimar propôs um mês como vereador para ele e que queria metade do pagamento”, completou.
Maria Silvana ainda relatou que Eder ficou indignado com a proposta de Jocimar. Em um primeiro momento, a companheira de Eder sugeriu que ele aceitasse, mas sem saber que repartir o salário era crime de rachadinha. Ela justifica a falta de conhecimento por não gostar de política.
A companheira de Eder confirmou que informou a Voltolini antes da prisão que Jocimar havia exigido parte do salário de Eder em troca do cargo na Câmara. Maria Silvana disse ainda que passou a informação também para o servidor público Vilson Moresco, este que ainda deve depor à comissão.
“Eu comentei [que Jocimar pediu 50% do salário] não só com ele (Voltolini), mas com outro lá dentro também, o Moresco”, revelou. “Para o Rodrigo [Voltolini], eu cheguei nele e falei que o Jocimar chamou o Eder para assumir por um mês como vereador, mas não é era o salário todo. O Rodrigo [Voltolini] só falou uma coisa: ‘eu, se fosse o Eder, não aceitaria’. Até ali, eu não sabia o que era rachadinha”.
Jocimar foi preso em flagrante no dia 30 de novembro pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por suspeita de rachadinha. A prisão aconteceu em frente ao Banco do Brasil, no Centro I, enquanto recebia parte do salário do suplente que ocupava o mandato provisoriamente, Eder, pois Jocimar estava licenciado do cargo.
Posteriormente, foi divulgado que Eder denunciou o caso ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) dias antes da prisão. Jocimar é o terceiro vereador preso durante o mandato na história de Brusque. Ele foi solto no dia seguinte após pagamento de fiança e afastado do mandato por ordem da Justiça.
Desde então, Jocimar optou pelo silêncio, até se manifestar cerca de 20 dias após a prisão. Eder, ainda quando ocupava o mandato, apresentou o pedido de cassação de Jocimar, aprovado pelo plenário da Câmara. Assim, foi formada a comissão processante que analisa a denúncia.
Após o período de licença de Jocimar, Eder deixou o cargo. Em razão do afastamento, porém, o então diretor-geral do Zoobotânico, Rodrigo Voltolini, primeiro suplente de vereador pelo DC, assumiu a cadeira de Jocimar na Câmara por tempo indeterminado.
Na primeira entrevista que concedeu à imprensa depois do episódio, Jocimar se defendeu. “Fui envolvido em um golpe terrível para destruir a minha imagem”, disse. A defesa alega que houve um conluio entre suplentes, inclusive com a suspeita da participação do hoje vereador Voltolini.
Voltolini negou a acusação. “Com os fatos que aconteceram até então e essa última situação agora, ele perde um grande amigo”, disse ao jornal O Município após a alegação da defesa. Maria Silvana também é apontada pela defesa como integrante do tal conluio.
Nos bastidores, a prisão de Jocimar pegou políticos de Brusque de surpresa. As informações começaram a chegar aos ouvidos de vereadores, assessores e servidores da prefeitura no início da noite do dia da prisão. Jocimar era membro da base de apoio do governo do prefeito André Vechi (PL) na Câmara.
Dias após a prisão, o prefeito se manifestou. Vechi, que antes de se filiar ao PL integrava o partido de Jocimar, disse que “qualquer relacionamento político com o vereador Jocimar está cortado”. Além disso, o prefeito afirmou que, caso fosse parlamentar, “avançaria na linha” de um pedido de cassação.
Ainda vão prestar depoimento à comissão Fabiana Gascoin, Wellen de Lima Godoy, João Fontoura, Natal Lira, Cleiton Schmidt, Sirley de Jesus Souza Mafra, Daniel da Maia Bueno, Vilson Moresco, João Rossato e Jocimar.
A fase de depoimentos da comissão processante ocorre entre os dias 19 e 25 de janeiro. A comissão é formada por três vereadores, sendo presidida por Nik Imhof (MDB). O relator é Jean Dalmolin (Republicanos) e integra a comissão como membro Rogério dos Santos (Republicanos).
De acordo com o artigo 84 do regimento interno da Câmara de Brusque, a comissão processante é formada para apurar denúncias apresentadas contra vereadores, prefeito, vice-prefeito e outros. Na ocasião, a comissão que investiga o pedido de cassação de Jocimar é formada por três vereadores.
A rachadinha, crime no qual Jocimar é acusado, trata-se na prática do repasse do salário de um terceiro, como assessor ou suplente, ao parlamentar. Nesta específica ocasião, o vereador afastado é suspeito de exigir 50% do salário do suplente Eder em troca de um mês no cargo de vereador.
Correção (25/01, às 13h08): anteriormente, o nome da companheira de Eder Leite, Maria Silvana Fugazza, estava escrito o errado. O texto foi corrigido. Outra informação corrigida também é o período da fase de depoimentos, que ocorre entre os dias 19 e 25 de janeiro, e não somente até 24 de janeiro, como divulgado antes.
Atualização (25/01, às 13h08): o nome de Jocimar na lista de depoentes foi acrescentado.
“Estrangeiro na própria Itália”: dialeto bergamasco de Botuverá é um dos mais distantes do italiano: