13 de outubro de 1930. Augusto Bauer é deposto do cargo de prefeito de Brusque pelo batalhão Coronel José Severiano Maia, sob o comando da tropa do coronel Pedro Kuss, de Florianópolis. A deposição do prefeito é pacífica e ordeira, e, no ato, é nomeado Rodolfo Victor Tietzmann pelo governo federal para assumir a função.
Logo depois, em 1937, a cidade tem mais um prefeito deposto: Adolfo Walendowsky, que ocupou o cargo por menos de um ano. Ele é substituído interinamente por Henrique Bosco, até a posse do prefeito nomeado Arthur Germano Risch, que administra Brusque até março de 1940.
A década de 1930 representou um novo tempo de insegurança para os moradores e para a política local, que passa a ser fortemente influenciada pelos acontecimentos nacionais.
Liderada pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, o movimento armado denominado ‘Revolução de 1930’, culminou com a deposição do presidente da República, Washington Luís, em outubro, e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes, do Partido Republicano, pondo fim à República Velha.
O líder central deste período é o militar gaúcho Getúlio Vargas, da Aliança Liberal. Ele perdeu as eleições presidenciais de 1º de março de 1930. Em Brusque, Getúlio recebeu 387 votos, contra 600 de Prestes, que foi o vencedor.
Já eleito, Prestes se manifesta a favor do movimento bolchevista em uma reunião na Argentina e os militares brasileiros decidem partir para a revolução, apontando o assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba, como motivo.
A revolução inicia no Rio Grande do Sul, liderada por Getúlio Vargas, e se expande para Santa Catarina no dia 5 de outubro, com tropas a caminho da capital federal.
Na opinião destes militares, todos os municípios que apoiaram Júlio Prestes na eleição deveriam ser ocupados
“Na opinião destes militares, todos os municípios que apoiaram Júlio Prestes na eleição deveriam ser ocupados. Em Brusque, o prefeito é Augusto Bauer. Torna-se vítima da revolução e deposto no dia 13 de outubro de 1930”, destaca Lauth.
O Batalhão Maia aproxima-se de Brusque com 35 homens armados, com ordens expressas de depor o prefeito. Três dias depois, aparece um segundo batalhão na cidade.
“A deposição de Bauer é pacífica, não poderia ser diferente diante de tanta gente armada. Além do prefeito, o batalhão também perseguiu o delegado de polícia Luis Carlos Gevaerd, que havia passado correntes na ponte Vidal Ramos para impedir a invasão. Não há informações sobre sua prisão. Quando ele soube das tropas na cidade, pegou a família, atravessou o rio e foi morar na fazenda Hoffmann, região onde hoje está a Chácara Edith”.
De acordo com o historiador, a revolução representou uma ameaça à integridade das pessoas, e trouxe medo, apreensão e insegurança para a vida da cidade que, de repente, se viu com a presença de dois batalhões fortemente armados. “A cidade nem soldado treinado tem, quanto mais uma linha de formação de tiro, tão ordeira e pacífica era”, diz.
Paralelo às intervenções em Brusque pela política nacional, o país enfrentou a tragédia da quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929.
Os Estados Unidos eram o maior comprador do café brasileiro mas, com a crise, a importação do produto diminuiu muito e os preços caíram. Para tentar reduzir os impactos da crise econômica nacional, o governo de Getúlio Vargas comprou e queimou toneladas de café destinados à exportação.
A crise que se instalou no país representou sérios problemas econômicos aos pequenos municípios e forte impacto na indústria têxtil de Brusque, que destinava praticamente toda a produção para o porto de Santos.
“A população fica mais pobre. As fábricas não têm desempregados, mas não há ganhos econômicos reais no período, o preço da produção baixa muito. Há dificuldades na negociação de tecidos no Porto de Santos e isto vai afetar também o custo de vida e os salários dos operários. Temos um tempo de pobreza que atravessa anos à frente”.
É neste período conturbado que, em 1932, o ministro de Getúlio Vargas, Lindolfo Collor, cria as primeiras leis de proteção trabalhista, que têm forte impacto na indústria. Fica estabelecido o registro de contrato de trabalho e de salário registrado, salário mínimo, jornada de trabalho de oito horas, com descanso remunerado e a proteção a mulheres grávidas com afastamento do trabalho.
Inicialmente, os operários não aprovaram a nova legislação, pois ganhavam salário por produção e se ocupavam por 12 horas na fábrica, seis dias por semana.
As leis eram entendidas como diminuição de ganhos. A conversa sobre a nova legislação foi discutida na diretoria da ‘Sociedade Pomerânia’, hoje Sociedade Beneficente, que tinha se reunido para organizar as comemorações do ‘Dia do Trabalho’.
No baile, os operários criaram a ‘Liga Operária Brusquense’ para discutir a questão com os patrões. A liga evoluiu para a formação de um sindicato de operários, que é aprovado em 22 de junho de 1933.
“A greve de resistência à legislação getulista e a formação do sindicato vai alimentar as campanhas políticas do novo partido Integralista, de Plínio Salgado. Ele vem a Brusque em várias ocasiões para consolidar a primeira ‘Cidade Integralista’. Dessa sua pregação por uma organização social sem conflito com os patrões resulta na eleição de Adolfo Walendowsky para prefeito de Brusque, em 1937, e logo depois em sua deposição pelo governo getulista, através da extinção dos partidos políticos”.
O sindicato operário assume em Brusque o papel previdenciário da saúde, que o governo federal não conseguiu implementar, consolidando-se rapidamente em 1942 na inauguração de sua sede própria
A cassação do partido Integralista e a deposição de Adolfo Walendowsky origina na classe operária o sentimento de frustração pela proteção legal ao operário têxtil.
De acordo com Lauth, a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Brusque ficará marcada desde sua criação pelo atendimento social ao operário, inicialmente com cooperativismo na compra de alimentos básicos e, posteriormente, na aquisição de remédios e na realização de exames médicos.
“O sindicato operário assume em Brusque o papel previdenciário da saúde, que o governo federal não conseguiu implementar, consolidando-se rapidamente em 1942 na inauguração de sua sede própria. Em contraposição, sua criação é fruto da miserabilidade operária de Brusque nos anos 30, como reação da classe proletária que toma consciência de seu papel na sociedade”.
Nesta época, a pirâmide social de Brusque se definia por três classes: o operário, o pequeno agricultor e o empresário têxtil, os grandes atores do progresso da cidade.
É desse período que surge outra grande obra em Brusque: a construção do novo prédio do Hospital da ‘Santa Casa de Misericórdia de Azambuja’, por iniciativa de Cônsul Carlos Renaux.
O hospital tinha entrado em colapso pela falta de dinheiro, comida e remédio para atender os mais de 400 doentes vindos de toda região. O prédio abrigava, ainda, o seminário diocesano, o “hospício de alienados mentais” e o asilo de idosos. Estava superlotado e não tinha como continuar o acolhimento e o tratamento médico.
Carlos Renaux negocia a construção com o arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim D. de Oliveira, que doa o terreno e o industrial banca a construção do prédio, com projeto do engenheiro da Fábrica Renaux, Eugen Rombach, tendo estrutura de dois andares de quartos, consultórios e salas cirúrgicas. O novo prédio foi inaugurado em dezembro de 1935.
O historiador destaca que, mesmo durante período de miserabilidade da população brusquense, ainda existiu o espírito de solidariedade humana como parte do enfrentamento da crise, exemplificada tanto na construção da sede do sindicato quanto no novo hospital.
“Obras memoráveis de um empresário líder que marcou a sociedade de Brusque por longa data. Que não se esqueça também a fraternidade do povo simples, da Associação das Senhoras de Itajaí, da Associação das Senhoras Evangélicas e da Sociedade Cultural Cônsul Carlos Renaux. A revolução getulista delega à cidade, portanto, o espírito de fraternidade que une toda a sociedade brusquense”.
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