Desde o início, a história de Brusque com as estradas foi marcada por muito esforço e luta. Ao chegarem aqui, os primeiros colonos usaram as próprias mãos para abrir, em meio à mata fechada, os caminhos que, mais tarde, pertenceriam à cidade.
A primeira ligação entre a colônia e a Vila de Itajaí foi concluída somente em 1875, 15 anos depois da chegada dos primeiros imigrantes, por iniciativa do barão Maximilian von Schneeburg.
A estrada, antes chamada Brusque-Itajaí, seguia um trajeto diferente, cheio de buracos e bastante precária. Por muitos anos, foi a única ligação com outras cidades.
Em 1900, por iniciativa do cônsul Carlos Renaux, aconteceu a primeira tentativa de melhorar o transporte em Brusque: os trilhos. A intenção era que a estrada fosse uma linha estreita, com tração animal, com extensão de três quilômetros, ligando a antiga ponte Vidal Ramos à Fábrica de Tecidos Carlos Renaux.
Dez anos depois, a classe empresarial de Brusque demonstrou ter interesse em uma ligação férrea com o porto de Itajaí. O desejo era que o trilho saísse de Blumenau, passasse por Gaspar e Brusque, até chegar em Itajaí. Porém, o que ficou decidido foi que o trilho sairia do Vale do Itajaí-Açú e adentraria, a partir de Ilhota, no Vale do Itajaí-Mirim.
Com isso, a partir do bairro Itaipava, em Itajaí, iniciaria-se a construção de um ramal até Brusque, que teve início nos anos 1950, porém, não foi longe. A obra, bastante cara, demorou anos para avançar, até que após muitos pedidos, em 1964, foi decretada a não continuidade. O túnel do Montserrat, como é conhecido hoje, foi abandonado e redescoberto somente nos anos 1990.
O fracasso da estrada de ferro, do transporte hidroviário – que até o início do século 20 era o principal sistema de escoamento da produção – e as péssimas condições das estradas – que até a década de 1960 eram as mesmas abertas pelos colonizadores um século atrás – deixaram Brusque praticamente isolada durante muito tempo, freando o desenvolvimento da cidade, que contava com indústrias pujantes e era uma das forças da economia no estado.
Não demorou muito para que as lideranças da cidade percebessem o problema. Brusque necessitava de uma ligação decente com Itajaí e também com Gaspar. Iniciava, então, uma grande luta para a construção das rodovias no município.
O fracasso da estrada de ferro, do transporte hidroviário e as péssimas condições das estradas deixaram Brusque praticamente isolada, freando o desenvolvimento da cidade
Na década de 1950, o governo federal iniciou a construção da BR-59, mais tarde denominada BR-101. Já naquela época, as lideranças pleiteavam uma estrada que fizesse a ligação de Brusque com a BR-59. Nascia a campanha pela rodovia Antônio Heil, que durou mais de 10 anos.
Ao mesmo tempo, a cidade também reivindicava a construção de uma nova estrada entre Brusque e Gaspar para substituir a velha rodovia paralela aberta no começo do século pelos primeiros colonizadores da região. A nova estrada até iniciou em 1952, mas de forma muito lenta, gerando descontentamento na população.
Em dezembro de 1957, o jornal O Município publica um artigo cobrando mais ação do poder público em relação às estradas. Com o título: “Nossas estradas…uma calamidade”, o texto diz que “precisamos urgentemente da ratificação da estrada para Itajaí, por onde escoa, em caminhões, toda produção industrial e colonial do município; necessitamos de uma ligação rodoviária senão excelente, mas pelo menos em condições de trânsito permanente para a capital; a estrada para Blumenau precisa ser melhorada de uma vez, pois a que aí está é ainda aquela do tempo em que o carro de boi era o veículo da moda”.
Diversos artigos foram publicados em O Município ao longo da década de 1960, cobrando rodovias para a cidade. Foram inúmeras promessas, frustrações e anos de espera até que, finalmente, Brusque ganhasse caminhos dignos de sua grandeza.
Em julho de 1962, foi assinado o convênio entre o Gabinete de Planejamento do Plano de Metas do Governo e o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para a continuidade da execução da rodovia Brusque-Gaspar, que teve início durante o governo de Irineu Bornhausen, mas ficou paralisada por anos. A retomada da obra, entretanto, aconteceu somente um ano depois da assinatura do convênio, em agosto de 1963.
Na época, O Município noticiou que a estrada seguiria por uma traçado totalmente novo, reduzindo em aproximadamente 20 quilômetros a distância entre Brusque e Gaspar, além de eliminar todas as curvas e subidas.
A obra só foi inaugurada em janeiro de 1967. A abertura do novo traçado da estrada Brusque-Gaspar passou por quatro governos: iniciou com pequenos cortes na época de Irineu Bornhausen, depois teve pequeno avanço na gestão de Heriberto Hulse. Foi retomada com mais impulso e sob durante do governo de Celso Ramos que concluiu praticamente a metade e finalizada e inaugurada em 29 de janeiro de 1967, pelo governador Ivo Silveira, que emprestou seu nome à rodovia.
A estrada foi inaugurada faltando 500 metros para ser totalmente macadamizada. A solenidade contou com a presença do governador Ivo Silveira, diversas autoridades e a população de Brusque, que fez questão de conferir a nova estrada, pronta 15 anos depois de seu início tímido, em 1952.
A obra foi entregue com o novo traçado, mas não asfaltada. Com o tempo, as dificuldades começaram a aparecer e, o asfaltamento da rodovia entrou na pauta de discussões na cidade.
Em maio de 1975, O Município noticiou o fim do trabalho de pesquisa de tráfego no trecho entre Brusque e Gaspar, que tinha uma média de 700 veículos passando pelo local diariamente. Meses depois, foi noticiada a abertura do processo licitatório para o asfaltamento da rodovia.
Em fevereiro de 1976, o governo do estado assinou contrato com a empresa vencedora da licitação e também a ordem de serviço para início da obra. A inauguração da rodovia asfaltada ocorreu em solenidade realizada em 28 de março de 1977, com a presença do governador Antônio Carlos Konder Reis.
Tão intensa quanto a campanha para a construção da nova estrada para Gaspar, foi a que reivindicava o acesso de Brusque para a BR-59, que mais tarde se transformou na BR-101. A luta para uma ligação rápida e em boas condições de Brusque a Itajaí começou em 1959 e foi uma novela que durou dez anos.
Vários foram os artigos publicados em O Município reivindicando o acesso à cidade portuária. Na inauguração da rodovia Ivo Silveira, o prefeito da época, Antônio Heil, em seu discurso, pediu o início das obras.
Este é o pedido do povo de Brusque: uma nova estrada para Itajaí a fim de unir Blumenau-Itajaí-Brusque, o triângulo de maior expressão econômica da região
“Uma estrada de ligação com a BR-101, uma nova estrada para o porto de Itajaí, escoadouro natural de nossa pujante produção. Este é o pedido do povo de Brusque a vossa excelência: uma nova estrada para Itajaí a fim de unir Blumenau-Itajaí-Brusque, o triângulo de maior expressão econômica da região, por modernas rodovias, que a época está a reclamar”.
Foi apenas em 22 de agosto de 1969, após inúmeros pedidos, que as obras iniciaram, numa distância de 29 quilômetros ligando Brusque a BR-101.
A obra até foi cogitada para iniciar durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), quando teve os estudos iniciados, mas não avançou, deixando os brusquenses somente na esperança.
Foram pouco mais de cinco anos de trabalho intenso na nova estrada, até sua inauguração, em 25 de outubro de 1974, pelo governador Colombo Salles. A estrada, tão almejada, ganhou o nome de rodovia Antônio Heil, em homenagem ao ex-prefeito de Brusque, que foi um grande entusiasta da obra e faleceu em 1971, antes de vê-la concluída.
Uma multidão foi até a estrada para presenciar este capítulo tão aguardado da história de Brusque. Mais de 40 anos após sua inauguração, a rodovia Antônio Heil ainda é o principal acesso do município. Diariamente, passam pela estrada milhares de veículos leves e pesados, tornando a rodovia, uma das mais movimentadas do estado.
A mobilização das lideranças políticas e empresariais foi fundamental para a construção das duas principais estradas de Brusque. Anos depois, essa história se repetiu, mas agora, com a reivindicação da duplicação da rodovia Antônio Heil.
Foi pela iniciativa da empresa Irmãos Fischer, que o projeto saiu do papel. A indústria brusquense firmou parceria com o governo do estado e, por meio do abatimento do ICMS, viabilizou o primeiro trecho duplicado da rodovia, entregue para a população em dezembro de 2017 – do limite de Brusque e Itajaí até a concessionária Uvel.
Do limite de Itajaí até a BR-101, a duplicação é de responsabilidade do governo do estado e ainda não foi concluída. A ordem de serviço foi assinada em 2014 e a previsão inicial era ser entregue em 2017.
Não aconteceu. Burocracias e problemas com as empresas executoras atrasam essa que é uma das obras mais importantes para o desenvolvimento de Brusque. Assim como no passado, as lideranças não medem esforços para garantir que a cidade tenha o seu principal acesso duplicado, à altura da importância de Brusque para o estado.
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